As sombras de vidro

Este texto se detém em dois momentos do Folhetim da Folha de S. Paulo, que marcam duas posturas distintas. O primeiro se localiza em 1977, marco inicial da existência do suplemento que resistiria até o primeiro semestre de 1989. O segundo ponto se detecta dez anos depois do lançamento do Folhetim, em 1987, portanto, bem perto do declínio, de seus últimos números. A existência de uma década de separação limita o exame do contexto histórico que, por si só, seria capaz de construir uma versão da história social do período. Afastada a abordagem mais abrangente do período, resta a possibilidade de comparar, sob diversas perspectivas, os tipos de textos que circularam nestes dois anos. Isoladamente, eles podem esclarecer dois procedimentos distintos: o primeiro, jornalístico, que prepondera em 77, é marcado pela ação do repórter; e no segundo encontramos os procedimentos acadêmicos que, dominados pela premissa do ensaio, sustentam o ano de 87. Aproximar esses dois momentos do Folhetim causa uma impressão semelhante à tentativa de desvendar as ligações entre as duas áreas que dividem o Grande vidro de Marcel Duchamp. Assim, pretende-se operacionalizar os dois movimentos de leitura