Cenários de fé e de festa: levantamento patrimonial das práticas festivo-devocionais na área de abrangência da Usina Serra do Facão- Goiás/Minas Gerais

A presente reflexão é fruto da pesquisa de levantamento do patrimônio histórico-cultural dos municípios afetados pela construção da hidrelétrica Serra do Facão, no rio São Marcos, que corta os estados de Goiás e Minas Gerais. A mesma foi realizada entre os anos de 2008 a 2010 por equipe multidisciplinar de pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia. As atividades desenvolvidas visaram recompor por meio da oralidade e da memória as histórias dos moradores e do lugar, uma vez que entendemos ser essas narrativas de significativo valor cultural, marca do Patrimônio Histórico dos grupos sociais que vivem na região. A pesquisa resultou numa coletânea de artigos sobre os fazeres, saberes e práticas locais, um vídeo documentário e relatórios técnico-científicos. A construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Serra do Facão foi finalizada no início de 2011 atingindo os municípios de Catalão, Campo Alegre de Goiás, Davinópolis, Cristalina e Ipameri no estado de Goiás e Paracatu em Minas Gerais, cuja área de inundação é de aproximadamente 218,84 km². Ao realizarmos o Levantamento de Patrimônio Histórico-Cultural, fomos estabelecendo uma teia de informações que nos permitiram mapear grande parte das práticas, saberes e fazeres dessas comunidades, já que o universo da pesquisa abrangia 420 famílias no raio de impacto da barragem, além da população urbana dos municípios. O foco dessa reflexão é apresentar um quadro síntese que resume bem a relação que a população pesquisada estabelece com sua religiosidade, evidenciada na forma de festejos e louvações característicos do lugar. É inegável que o festar e o rezar nos caminhos do rio São Marcos reforça a ligação dos moradores com o lugar, revigora os vínculos com a vizinhança, estreita os laços de sociabilidade entre os moradores, fazendo com que, coletivamente, recuperem a sua identidade cultural mesmo frente ao processo de incertezas que encontramos em relação ao futuro das comunidades quando da realização da pesquisa. Essas pessoas não deixaram de festejar seus santos de devoção e nem de pedir, com fé, por dias melhores