Aplicação do método de digestão harmonizado para a determinação da bioacessibilidade de contaminantes alimentares - o caso das micotoxinas

As micotoxinas são metabolitos secundários produzidos por fungos que contaminam habitualmente diferentes alimentos, incluindo aqueles que são habitualmente consumidos por crianças. Sabe-se que a quantidade total ingerida de um contaminante (dose de exposição externa) não corresponde necessariamente à quantidade desse contaminante que estará disponível para exercer os efeitos tóxicos no corpo humano (dose de exposição interna). A quantidade de uma micotoxina que resiste ao processo de digestão e pode ser potencialmente absorvida e entrar na corrente sistémica é designada como bioacessibilidade. Os modelos de digestão in vitro são ferramentas muito úteis para a determinação da bioacessibilidade de contaminantes alimentares. Recentemente, um modelo de digestão in vitro harmonizado foi descrito, no âmbito da acção COST INFOGEST, disponibilizando uma metodologia que permite uma maior comparabilidade dos resultados obtidos1. Objectivo: Determinar a bioacessibilidade de duas micotoxinas, ocratoxina A (OTA) e patulina (PAT), em farinhas lácteas infantis (contaminadas artificialmente), no âmbito da avaliação do risco associado ao consumo de alimentos potencialmente contaminados por estas toxinas. Materiais e métodos: Para determinação da bioacessibilidade foi aplicado o modelo de digestão in vitro harmonizado. Os ensaios foram realizados em seis tipos diferentes de farinhas lácteas, artificialmente contaminadas com OTA e PAT. A quantificação destas micotoxinas foi realizada através de metodologias cromatográficas (HPLC-FLD para a OTA; HPLC-UV para a PAT). Resultados e Discussão: Os ensaios realizados revelaram valores médios de bioacessibilidade de 100% no caso da OTA e de 52% no caso da PAT2. Estes resultados sugerem que uma parte significativa da PAT é reduzida durante o processo de digestão enquanto que no caso da OTA, a quantidade ingerida permanece quase inalterada até atingir o intestino. Conclusões: Numa abordagem de avaliação do risco associado ao consumo de farinhas lácteas potencialmente contaminadas por OTA e PAT, e tendo em conta os resultados de co-ocorrência e bioacessibilidade, o presente estudo demonstrou que estas micotoxinas representam um risco reduzido para as crianças Portuguesas.N/