As dores de Filoctetes

Filoctetes de Sófocles é o paradigma para avaliar a dor e sua representação estética. A função de educação moral da arte leva o século xviii alemão a discutir a expressão da dor: deve ser contida ou exteriorizada? A atitude pessoal varia segundo a resistência, circunstâncias, regras sociais, integração em referências culturais. A dor não consiste só nos sinais neurotransmitidos da lesão ao cérebro. Implica a totalidade do ser, nas suas tonalidades psicológicas, afectivas, morais, volitivas. Ela rompe o ritmo da existência, desfigura a identidade, desarticula o discurso. Intransferível, gera limitações. Prova singular, expõe a possibilidade universal de sofrer. Muda a compreensão da realidade. Suscita a questão ontológica essencial: o sentido do ser vivo consignado ao sofrimento e à aniquilação.Sophocles’ Philoctetes is the pattern to appraise pain and its aesthetic representation. The art’s function of moral education takes the german eighteen century to discuss the expression of pain: should it be repressed or exteriorized? The personal behaviour differs according to the resistance, circumstances, social rules, integration in cultural references. Pain is not only the signals broadcasted over nerves leading from injury to the brain. It implicates the whole being, in its psychological, affective, moral, volitive tones. It breaks the rhythm of existence, desfigures identity, disarticulates speech. Untransferable, it begets limitations. Singular probation, it exposes the universal possibility of suffering. It changes the comprehension of reality. It raises up the essencial ontological question: the sense of the living being, consigned to suffering and annihilation