Parte-se da noção de ira como motor da História, que Peter Sloterdijk desenvolve no artigo «Os novos frutos da ira: Pós-comunismo, Neoliberalismo e Islamismo» (in O Estado do Mundo, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006). Face à centralidade holística do capitalismo contemporâneo, sigo Sloterdijk quando afirma esgotado o potencial ameaçador e regulador da «energia timótica» comunista. Os espectros irados que alimentaram, a contrario, o modelo social europeu volveram-se, assim, em «espectros inúteis» (Richard Sennett), marginalizados por uma constante ameaça avaliativa. O terrorismo islamita não renova, pois, uma ira produtiva, constituindo antes uma outra face deste novo vazio (conceito que impulsiona a necessidade de reconhecimento in...