A natureza da ciência. Estudo das concepções e práticas lectivas de professores de física e química do ensino secundário

A história e a filosofia contemporânea das ciências veiculam uma imagem profunda e complexa acerca da natureza da ciência, relevando o seu carácter mais humano e dinâmico, desmistificando a objectividade e a unicidade da metodologia científica e reconhecendo, ainda, as interfaces com outros saberes e as inúmeras interacções que a ciência estabelece com a sociedade. Esta imagem está associada um novo quadro epistemológico acerca do empreendimento científico, o qual, por sua vez, deverá ter correlativas implicações pedagógicas e curriculares para a educação em ciências. Partindo do princípio, hoje incontornável, que o professor constitui um elemento crucial na implementação de qualquer inovação ou reforma educativa, considerou-se pertinente explorar as concepções e imagens sobre a natureza da ciência que os professores de ciências físico-químicas detêm (primeira parte do estudo empírico), assim como conhecer a imagem de ciência que estes difundem nas suas aulas (segunda parte do estudo empírico). A clarificação e compreensão da problemática antes configurada constituíram, precisamente, a grande finalidade do presente estudo. Com vista a alcançar os objectivos propostos, recorreu-se, na primeira parte do estudo, á realização de entrevistas que, ao fazerem emergir os significados e entendimentos pessoais dos professores, assumiram uma orientação fortemente qualitativa, orientação partilhada também pela segunda parte do estudo, onde se procedeu à observação de algumas aulas, utilizando uma grelha adequada. No que diz respeito a resultados e conclusões, estes parecem apontar para a manifestação de uma visão empírico-indutiva da produção científica, a prevalência do mito do "método científico" e o estatuto superior do conhecimento científico face a outros saberes, assim como a falta de reflexão e de formação sobre a natureza cia ciência. Esta última evidência é particularmente marcante na prática lectiva dos professores, na medida em que, a natureza da ciência é um tema quase sempre descurado, sendo, por isso mesmo, frequentemente difundida uma imagem pobre e displicente da ciência. *** - Abstract - Contemporary history and philosophy of science convey a profound and complex image of the nature of science, showing its human and dynamic features, promoting the demystification of the scientific objectivity and uniqueness of scientific methodology, acknowledging the interfaces with other fields of knowledge and its countless interactions with society. This image is related to a totally new epistemological view on the undertaking of scientific knowledge which should, in turn, have correlated pedagogical implications on the working up of guidances, competence and plans concerning the cirrricula, which may give some consistency to education in science. Having in mind that the teacher is, indeed, a crucial element for the implementation of any innovations whatsoever, in the fields of educational reform, we considered that it would be relevant to explore the conceptions and images of the nature of science kept by physics and chemistry teachers (brought forward in the first para of the empirical study), and also get to know the image of science widespread by them in the classroom (second part of the empirical study). After the results and conclusions, the present study tries to give its contribution to a wider clarification and a deeper understanding of the matter, as it is inserted in the same line of investigation. So as to achieve our goal, we used in the first part of the study a free interview which assumes a strongly qualitative guidance, as it exposes the meanings of science and teachers' personal knowledge on the matter. This guidance is also used in the second part of the study where some classes were observed, making use of a special grid, conceived for that purpose. As a result of our study, and about teachers' conceptions, it seems to show an empirical inductive vision of scientific production, the prevalence of the myth of "the scientific method" and the upper recognition of scientific knowledge compared to other fields of knowledge, and the lack of reflection as well as the lack of training on the nature of science. This last point becomes decisive in the academic practice of teachers, exactly where the nature of science is almost always a much neglected issue. A poor and disregarded image of science has been spread instead