A evolução tectónica da zona de cisalhamento de Montemor-o-Novo (sudoeste da zona de Ossa Morena - área de Santiago do Escoural - Cabrela)

A Zona de Cisalhamento de Montemor-o-Novo situada nos domínios ocidentais da Zona de Ossa-Morena representa uma zona de fraqueza crustal à escala quilométrica com geometria em leque centrada num sinclinório assimétrico. A deformação varisca dúctil é caracterizada pelo desenvolvimento de "fabrics" miloniticos associados a planos de foliação bastante inclinados e a uma lineação de estiramento geralmente de baixo ângulo, favorecendo movimentações do tipo "strike-slip". Os critérios cinemáticos indicam que predomina movimentação transcorrente com componente extensional. As bandas de Cisalhamento extensionais esquerdas (C') que deflectem um fabric S-C, são um dos elementos estruturais mais característicos. Quando a deformação incremental se traduz em elevados gradientes de deformação, assiste-se à tendência para a transposição de S-C-C' e ao desenvolvimento de novos cisalhamentos extensionais. Localmente observa-se sobreposição de "fabrics" associados a deformação progressiva. Apesar da intensa deformação verificada na Zona de Cisalhamento de Montemor-o-Novo é possível definir uma sequência estratigrafica baseada em critérios de campo (geométricos e litoestratigráficos) bem como dados analíticos (geoquímicos e geocronológicos). Regista-se uma etapa inicial essencialmente sedimentar que assinala o topo do Ediacariano na transição para o Câmbrico Inferior (sedimentos detríticos siliciclásticos imaturos da Série Negra- 560-540Ma?) associada ao desmantelamento de um arco magmático Cadomiano-Avaloniano (630Ma-560Ma). Aos 530Ma (Câmbrico Inferior) e prolongando-se até aos 510Ma (Câmbrico médio) assinala-se uma etapa marcada por intensa actividade ígnea de natureza calco-alcalina (peraluminosa). Esta passagem expressa-se provavelmente por uma discordância estratígrèifíca na base de um complexo ígneo (essencialmente félsico) -sedimentar onde predominam riolitos e riodacitos (corpos hipabissais? e seus equivalente eruptivos) associados a sedimentos carbonatados e também detríticos- siliciosos. Posteriormente (510-480Ma?) assiste-se ao desenvolvimento de um complexo (essencialmente máfico)-sedimentar dominado pela presença de rochas basálticas e gabróicas (toleitos sub-alcalinos do tipo N e E-MORB) associados a sedimentos detríticos siliciosos e a níveis carbonatados. Este complexo aponta para um regime geodinãmico "anorogénico" com o envolvimento de uma fonte astenosférica. Sublinhe-se, igualmente a existência de rochas ígneas básicas de tendência "orogénica", sobretudo associadas aos sedimentos da Série Negra. A etapa evolutiva seguinte registada decorre aproximadamente 115-135 milhões de anos depois do período associado ao magmatismo "anorogénico". Considera-se que poderá ter ocorrido um evento de inversão das bacias do Paleozóico inferior e consequente espessamente crustal (370Ma?) que explicará a presença de testemunhos de alta e média pressão rodeados pelo "fabric" associado à transcorrência Varisca posterior. No Carbónico Inferior (Tournaisiano-Viseano -359-326Ma) os sedimentos do tipo "flysch" e rochas vulcânicas calco-alcalinas (riolitos e riodacitos) a eles associados preservados em Cabreia representam a influência significativa de uma tectónica extensional com o enchimento de bacias marinhas. Este processo sedimentar é contemporâneo do pico metamórfico registado no seu soco cuja deformação dúctil está provavelmente ligada a um evento térmico de longa duração. Existe uma relação forte entre a deformação dúctil e o metamorfismo regional, demonstrada pelo facto de que a maioria das fases minerais prógradas (desenvolvidas em fácies dos xistos verdes, anfibolítica e anfibolítica alta) terem crescido com evidente orientação preferencial paralelamente à direcção de estiramento com baixo ângulo. Abstract - The Montemor-o-Novo Shear Zone located at the western domains of the Ossa-Morena Zone represents a kilometre scale crustal weakness zone with a fan-like geometry centred on an asymmetric synclinorium. The Variscan ductile deformation is characterized by the widespread development of mylonitic fabrics associated with a steeply dipping foliation and a low angle stretching lineation. The kinematic criteria indicate a transcurrent regime favouring strikeslip movement with extensional component. The dominant S-C fabris is generally affected by sinistra) C"-type extensional shear planes. In some cases, transposition of planar fabrics occurs as consequence of progressive deformation. Despite of the strong Variscan deformation is possible to establish a stratigraphic sequence based on field criteria (structural and lithostratigraphic data) and analytical data (geochemistry and geochronology results). A first stage of sedimentary basins development at the Ediacaran - the Early Cambrian transition (detrital siliciclastic sediments from the serie Negra- 560-540Ma?) is associated with the dismantling and erosion of a Cadomian-Avalonian magmatic arc (630Ma- 560Ma). From 530Ma (Lower Cambrian) to 510Ma (Middle Cambrian) strong calc-alkaline (peraluminous) magmatic activity is expressed by an igneous (felsic dominated)-sedimentary complex, with rhyolites and rhyodacites interbedded with limestones and pelites, that unconformably overlies the Serie Negra rocks. At the top of the sequence (510-480Ma?) exists a igneous (mafic dominated)-sedimentary complex, with basalts and gabbros (sub-alkaline tholeiites with N- and E-MORB signature that indicates an anorogenic setting and astenospheric source) associated with pelitic sediments and carbonates. After a period of approximately 115-135 million years the Lower Paleozoic basins suffered inversion and crustal thickenning (370Ma?) was responsible for the relics of high-medium-pressure metamorphism surrounded by )ater Variscan transcurrent-related planar-linear fabrics. In the Lower Carboniferous (Tournaisian-Visean, -359-326Ma) the flysch-iike sediments and calc-alkaline volconic: rocks (rhyolites and rhyodacites) preserved at Cabreia represent the infill of marine basins under influence of extensional tectonics. This sedimentary process was contemporaneous with the metamorphism peak and ductile deformation that affected the basement (probably related with a long-live thermal event). There exists a close relationship between the ductile deformation and the regional metamorphism, as pointed by the fact that the majority of the prograde mineral phases (developed under green schist and amphibolite facies) show a strong preferred orientation in parallelism to the low angle stretching lineation