Arquitectura contemporânea em terra, precisa-se!

O crescimento das cidades no mundo actual, estilhaçando os limites de outrora, transformou-as de entes identificáveis na paisagem, em entidades difusas, de contornos e território indefinido. Como corolário desta alteração física, também os cidadãos deixaram de o ser, mesmo não tendo alterado a sua condição para rurais, estagnando no limbo do anódino, do “apátrida”, sem mundo, por ausência de fronteira. Esta condição de “apátrida”, se já era sentida no séc. XIX pelas classes social e economicamente menos favorecidas, é hoje um estigma – o suburbano, o periurbano – não só económico (p.e., o aumento do custo das deslocações) mas, fundamentalmente, social. Porém, esta “periurbanidade” tem, ainda, o estigma do isolacionismo, criando seres de individualismo exacerbado, o qual se manifesta quer na marca, côr e potência do automóvel, quer nas imagens da casa que adquire ou manda fazer e que são, afinal, os “sinais de riqueza” e ascensão social que todos, de uma ou outra forma, manifestamos e projectamos. Neste contexto de periurbanidade e novo-riquismo, a terra, enquanto material de construção, é um ente mal-querido e mal-vindo pois é a marca simbólica, o “ferro” (ou ferrete), que amarra o seu utente/proprietário à condição anterior de pobreza ou, para as classes elevadas, revela o seu estatuto devido aos custos envolvidos nas construção, pese embora o custo zero do material. A investigação, quer no campo laboratorial, quer no campo tecnológico, são uma parte fundamental para a re-ascenção da terra, mas não o são menos a sua introdução nas Escolas de Arquitectura (é um material tão limitativo da imaginação espacial quanto qualquer outro) ou a sua divulgação de forma adequada à contemporaneidade, junto do grande público, nomeadamente junto daqueles que serão os beneficiários da habitação social