A linhagem de Nemo: relações intertextuais entre Jules Verne e A Liga Extraordinária

TCC (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Letras Francês.Em “O que mantém viva a humanidade?”, capítulo de abertura de A Liga Extraordinária v. 3: Século (2020), história em quadrinhos (HQ) dos britânicos Alan Moore e Kevin O’Neill, os artistas dão continuidade às aventuras de uma equipe de heróis composta de personagens literários do final do século XIX e início do século XX, ao tempo em que apresentam uma personagem inédita, Janni Dakkar, filha do capitão Nemo, o clássico personagem criado pelo francês Jules Verne. O presente estudo, tomando por base teórica as conceituações de dialogismo e intertextualidade, respectivamente de Mikhail Bakhtin (1997) e Julia Kristeva (1974), analisa como os textos ecoam uns nos outros, dos romances oitocentistas à HQ, sendo as relações intertextuais uma ideia subjacente à construção do enredo, buscadas intencionalmente pelos autores. Ambos os personagens, Nemo e Janni, são analisados em suas convergências e divergências em relação à obra verniana, com especial ênfase em suas trajetórias pessoais, permeadas por traumas de naturezas diversas, mas que levam ambos a tomar rumos parecidos em suas vidas. Busca-se demonstrar o nível refinado de intertextualidade pretendido pelos quadrinistas que, sob a intenção declarada de sempre conversar com outros textos, o fazem para além da obviedade da mera citação textual, incorporando em sua obra ecos muito mais sutis das obras em que se baseiam.Dans « O que mantém viva a humanidade? », chapitre d’ouverture de A Liga Extraordinária v. 3: Século (2020), bande dessinée (BD) des britanniques Alan Moore et Kevin O’Neill, les artistes donnent suite aux aventures d’une équipe de héros composée de personnages littéraires de la fin du XIXe siècle et du début du XXe siècle. En même temps, ils présentent un personnage inédit, Janni Dakkar, fille du capitaine Nemo, célèbre personnage créé par le Français Jules Verne. Le présent étude, en prenant pour base théorique les conceptualisations de dialogisme et intertextualité, respectivement de Mikhail Bakhtin (1997) et Julia Kristeva (1974), se propose d’analyser comment les textes résonnent les uns dans les autres. Les deux personnages, Nemo et Janni, sont analysés par rapport à l'œuvre vernienne, notamment en ce qui concerne leurs itinéraires personnels, imprégnés par des traumas divers, mais qui les mènent vers des directions similaires dans leurs vies. Le but de ce travail est celui de démontrer le niveau raffiné d’intertextualité mis en place par des auteurs de la BD qui tissent ces rapports non seulement par des citations textuelles, puisqu’ils incorporent dans leur œuvre des échos beaucoup plus subtils des œuvres de Verne