Condições de vida, saúde e saúde bucal da pessoa idosa domiciliada: estudo de método misto

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Florianópolis, 2022.A literatura tem reportado melhora na saúde geral e bucal ao longo da vida haja visto que as pessoas estão vivendo mais e retendo por mais tempo os seus dentes. Entretanto, a partir dessa constatação, observa-se um aumento da ocorrência de doenças bucais em idosos com algum grau de comprometimento da capacidade funcional. Essa situação é mais grave quando se analisa as pessoas idosas domiciliadas, pois além da maior prevalência de doenças crônico-degenerativas que geram perda funcional, lidam com barreiras que dificultam o acesso aos cuidados à saúde bucal de rotina. Este trabalho de tese buscou compreender as condições de vida, saúde e saúde bucal de pessoas idosas que se encontram domiciliadas. Tratou-se de um estudo transversal de base populacional, observacional de métodos mistos, do tipo convergente paralelo, com ênfase igual para ambos os conjuntos de dados. Na fase quantitativa, seguiram-se os fundamentos do método epidemiológico. A fase qualitativa foi sustentada pela análise de conteúdo. O estudo foi realizado no Município de Florianópolis, Santa Catarina/Brasil. A coleta de dados na fase quantitativa ocorreu por meio de questionário e exame clínico. Foram incluídas questões sociodemográficas, o instrumento de mensuração da fragilidade Kihon Ckecklist, condição de dentes e mucosa, higiene bucal, acesso a atendimento odontológico e visita de Cirurgião dentista no domicílio. Procedeu-se a análise descritiva e bivariada por meio do teste Qui-quadrado (IC 95%). Tendo como variáveis independentes: recebeu a visita do Cirurgião-dentista em seu domicílio e faz/recebe higiene bucal diariamente. Na fase qualitativa, a coleta de dados foi realizada com idosos e seus cuidadores e cirurgiões dentistas do Atenção Primária de Saúde, seguindo roteiro de entrevista semiestruturado. As falas foram gravadas em áudio, transcritas e analisadas de acordo com a análise de conteúdo de Bardin. Em seguida, os dados foram integrados a partir de uma matriz. O estudo foi aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob parecer 3.168.868. Participaram 123 idosos; idade média de 81,3 anos; 62,6% mulheres; 52% domiciliados por até 4 anos; possuíam cuidador 87% e 89,4% eram frágeis. Em relação à presença de dentes, 56,1% edêntulos; 40,5% possuíam de 1 a 8 dentes. Biofilme, lesão de cárie e restos radiculares foram observados, respectivamente em 69,9%, 25,2% e 12,8% dos participantes. Necessitavam de auxílio para higiene bucal 45,5% e não realizavam limpeza diária 24,4%. A dificuldade de acessar atendimento odontológico por estar domiciliado foi relatada por 32,5% e visita do Cirurgião dentista ocorreu em 16,3%. Não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as variáveis sociodemográficas, condição de saúde bucal com receber ou não visita do Cirurgião dentista em domicílio. Para o fazer ou receber diariamente a higiene bucal, observou-se diferenças estatísticas para o sexo, idade, renda percapita. Na fase qualitativa participaram 37 idosos e seus cuidadores e oito cirurgiões dentistas. A análise revelou três categorias relacionadas ao contexto do idoso no domicílio, cuidado do idoso no domicílio e atenção à saúde bucal às pessoas idosas domiciliadas nos serviços públicos de saúde. Observou-se convergências entre os resultados quantitativos e qualitativos para todas as categorias de análise. As pessoas idosas domiciliadas foram consideradas frágeis, dependentes de terceiros para os cuidados bucais e de saúde, os quais não são garantidos de modo consistente, no domicílio. Apresentam limitação de socialização, baixa força física, risco de depressão e baixa função cognitiva. A saúde bucal observada foi considerada precária pela presença de problemas bucais que demandavam intervenção. O estudo apontou necessidade de atendimento odontológico no domicílio no âmbito dos serviços públicos de saúde.Abstract: The literature has reported improvements in general and oral health throughout life, as people are living longer and retaining their teeth longer. However, from this finding, an increase in the occurrence of oral diseases is observed in the elderly with some degree of impairment of functional capacity. This situation is more serious when analyzing elderly housebound, because in addition to the higher prevalence of chronic degenerative diseases that generate functional loss, they deal with barriers that make it difficult to access routine oral health care. This thesis sought to understand the living conditions, health and oral health of elderly people who are domiciled. This was a population-based, observational, mixed-methods, parallel convergent, cross-sectional study, with equal emphasis on both data sets. In the quantitative phase, the foundations of the epidemiological method were followed. The qualitative phase was supported by content analysis. The study was carried out in the city of Florianópolis, Santa Catarina/Brazil. Data collection in the quantitative phase took place through a questionnaire and clinical examination. Sociodemographic questions, the Kihon Ckecklist frailty measurement instrument, condition of teeth and mucosa, oral hygiene, access to dental care and home visits by a dentist were included. Descriptive and bivariate analysis was performed using the chi-square test (95% CI). Having as independent variables: received a visit from the Dental Surgeon at home and does/receives oral hygiene daily. In the qualitative phase, data collection was carried out with the elderly and their caregivers and dentists from Primary Health Care, following a semi-structured interview script. The speeches were audio recorded, transcribed and analyzed according to Bardin's content analysis. Then the data were integrated from a matrix. The study was approved by the Ethics Committee for Research with Human Beings under protocol number 3.168.868. 123 elderly participated; mean age of 81.3 years; 62.6% women; 52% domiciled for up to 4 years; 87% had a caregiver and 89.4% were frail. Regarding the presence of teeth, 56.1% were edentulous; 40.5% had 1 to 8 teeth. Biofilm, caries lesion and root debris were observed, respectively, in 69.9%, 25.2% and 12.8% of the participants. 45.5% needed help with oral hygiene and 24.4% did not perform daily cleaning. Difficulty in accessing dental care due to being domiciled was reported by 32.5% and a visit by the Dental Surgeon occurred in 16.3%. No statistically significant differences were observed between sociodemographic variables, oral health status and whether or not the dentist was visited at home. To do or receive oral hygiene daily, statistical differences were observed for sex, age, per capita income. In the qualitative phase, 37 elderly people and their caregivers and eight dental surgeons participated. The analysis revealed three categories related to the context of the elderly at home, care for the elderly at home and oral health care for elderly people residing in public health services. Convergence was observed between the quantitative and qualitative results for all analysis categories. Elderly housebound were considered fragile, dependent on third parties for oral and health care, which are not consistently guaranteed at home. They have limited socialization, low physical strength, risk of depression and low cognitive function. The observed oral health was considered precarious due to the presence of oral problems that required intervention. The study pointed to the need for dental care at home within the scope of public health services