O Supremo Tribunal Federal e a Lei da Anistia : uma análise da decisão da ADPF nº. 153 e as disputas de memórias sobre o passado violento - Brasil (1964-1985)

Orientador: Prof. Dr. Luís Fernando Lopes PereiraTese (doutorado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciência Jurídicas, Programa de Pós-Graduação em Direito. Defesa : Curitiba, 09/08/2023Inclui referências: p. 192-202Área de concentração: Direito do EstadoResumo: O presente estudo tem como objetivo analisar, de forma crítica e contextualizada, a interpretação conferida pelo Supremo Tribunal Federal à Lei nº. 6.683, de 28 de agosto de 1979 - Lei de Anistia -, que chancelou a não responsabilização penal das graves violações de direitos humanos perpetrados por agentes estatais durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). Para isso, será desenvolvida uma abordagem à luz das disputas de memórias sobre o período autoritário, procurando enfrentar as seguintes problematizações: a) Como o julgamento da ADPF nº 153, acerca da Lei de Anistia, recepcionou a disputa de memórias sobre a ditadura militar instalada no Brasil em 1964? b) Qual a relação entre esse confronto de memórias e a disputa em torno do sentido dos direitos humanos no âmbito internacional? c) A decisão do Supremo Tribunal Federal pela impunidade dos agentes da repressão foi capaz de encerrar o debate sobre o passado autoritário? A fim de responder a esses questionamentos, a tese buscará, inicialmente, estabelecer um recorte teórico sobre a categoria da memória a partir de quatro eixos principais: considerações historiográficas sobre a relação entre história e memória; o passado autoritário em disputa; a memória em disputa, e; a "memória conciliada" da ditadura militar. Depois dessa abordagem, será discutido a construção do paradigma dos direitos humanos, tendo como referência a consolidação da normatividade internacional de proteção aos direitos humanos sobre atrocidades cometidas por agentes estatais sob a perspectiva da memória reivindicativa das vítimas, segundo jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. A partir dessas análises, será examinado criticamente o processo de judicialização do debate sobre o alcance da Lei de Anistia, começando pelo caminho para a propositura da ADPF nº. 153; em seguida os votos dos ministros que compuseram a decisão final e o modo de adesão à uma "memória conciliada" acerca do regime autoritário, sua repercussão na impunidade de agentes da repressão e no debate sobre a violência da ditadura militar ainda persistente na sociedade brasileira.Abstract: This study aims to analyze, in a critically and contextually way, the interpretation given by the Federal Supreme Court to the Law no. 6,683, of August 28, 1979 - Amnesty Law -, which sanctioned the non-criminal accountability of serious human rights violations perpetrated by state agents during the Brazilian military dictatorship (1964-1985). To achieve this, an approach will be developed in the light of memory disputes about the authoritarian period, aiming to face the following problematizations: a) How the judgment of ADPF (Claim of non-compliance with a fundamental precept) nº 153, about the Amnesty Law, welcomed the dispute of memories about the installed military dictatorship in Brazil in 1964? b) What is the relationship between this confrontation of memories and the dispute over the meaning of human rights at the international level? c) Was the decision of the Federal Supreme Court for the impunity of the agents of repression able to close the debate on the authoritarian past? In order to answer these questions, the thesis will initially seek to establish a theoretical perspective on the category of memory based on four main axes: historiographical considerations on the relationship between history and memory; the disputed authoritarian past; the disputed memory, and; the "reconciled memory" of the military dictatorship. After this approach, the construction of the human rights paradigm will be discussed, with reference to the consolidation of international norms for the protection of human rights regarding atrocities committed by state agents from the perspective of the memory of the victims' claims, according to the jurisprudence of the Inter-American Court of Human Rights. Based on these analyses, the process of judicialization of the debate on the scope of the Amnesty Law will be critically examined, starting with the path to the proposition of ADPF nº. 153; then the votes of the ministers who made up the final decision and the way of adhering to a "reconciled memory" about the authoritarian regime, its impact on the impunity of agents of repression and on the debate on the violence of the military dictatorship still persistent in Brazilian society.Resumen: Este estudio tiene como objetivo analizar crítica y contextualmente la interpretación dada por el Supremo Tribunal Federal a la Ley n. 6.683, de 28 de agosto de 1979 - Ley de Amnistía -, que sancionó la responsabilidad no penal de las graves violaciones de derechos humanos perpetradas por agentes estatales durante la dictadura militar brasileña (1964-1985). Para ello, se desarrollará un abordaje a la luz de las disputas de memoria sobre el período autoritario, buscando enfrentar las siguientes problematizaciones: a) Cómo la sentencia de la ADPF nº 153, sobre la Ley de Amnistía, acogió la disputa de memorias sobre los militares instalados dictadura en Brasil en 1964? b) ¿Cuál es la relación entre este choque de memorias y la disputa por el significado de los derechos humanos a nivel internacional? c) ¿La decisión del Supremo Tribunal Federal por la impunidad de los agentes de la represión pudo cerrar el debate sobre el pasado autoritario? Para responder a estas preguntas, la tesis buscará inicialmente establecer una perspectiva teórica sobre la categoría de memoria a partir de cuatro ejes principales: consideraciones historiográficas sobre la relación entre historia y memoria; el pasado autoritario en disputa; la memoria disputada, y; la "memoria reconciliada" de la dictadura militar. Luego de este abordaje, se discutirá la construcción del paradigma de los derechos humanos, con referencia a la consolidación de las normas internacionales de protección de los derechos humanos frente a las atrocidades cometidas por agentes estatales desde la perspectiva de la memoria de los reclamos de las víctimas, según la jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. Con base en estos análisis, se examinará críticamente el proceso de judicialización del debate sobre el alcance de la Ley de Amnistía, a partir del camino hacia la proposición de la ADPF nº. 153; luego los votos de los ministros que conformaron la decisión final y la forma de adherirse a una "memoria reconciliada" sobre el régimen autoritario, su impacto en la impunidad de los agentes de la represión y en el debate sobre la violencia de la dictadura militar aún persistente en la sociedad brasileña.Résumé: Cette étude vise à analyser de manière critique et contextuelle l'interprétation donnée par le Tribunal fédéral à la loi no. 6 683, du 28 août 1979 - loi d'amnistie -, qui a sanctionné la responsabilité non pénale des violations graves des droits de l'homme perpétrées par des agents de l'État pendant la dictature militaire brésilienne (1964-1985). Pour cela, une approche sera développée à la lumière des querelles mémorielles sur la période autoritaire, cherchant à faire face aux problématisations suivantes : dictature au Brésil en 1964 ? b) Quelle est la relation entre ce choc des mémoires et la querelle sur le sens des droits de l'homme au niveau international ? c) La décision du Tribunal fédéral pour l'impunité des agents de la répression a-t-elle pu clore le débat sur le passé autoritaire ? Afin de répondre à ces questions, la thèse cherchera dans un premier temps à établir une perspective théorique sur la catégorie de mémoire basée sur quatre axes principaux : des considérations historiographiques sur la relation entre histoire et mémoire ; le passé autoritaire contesté ; la mémoire contestée, et ; la " mémoire réconciliée " de la dictature militaire. Après cette approche, la construction du paradigme des droits de l'homme sera discutée, en référence à la consolidation des normes internationales de protection des droits de l'homme concernant les atrocités commises par les agents de l'État du point de vue de la mémoire des revendications des victimes, selon le jurisprudence de la Cour interaméricaine des droits de l'homme. Sur la base de ces analyses, le processus de judiciarisation du débat sur la portée de la loi d'amnistie sera examiné de manière critique, en commençant par le cheminement vers la proposition de l'ADPF nº. 153; puis les votes des ministres qui ont composé la décision finale et la manière d'adhérer à une "mémoire réconciliée" sur le régime autoritaire, son impact sur l'impunité des agents de la répression et sur le débat sur la violence de la dictature militaire toujours persistant dans la société brésilienne