Doxa, Diakosmêsis and Being in Parmenides’ Poem

The modern edition of Parmenides’ poem (from Fülleborn’s 1795 work onwards) consolidated the well-known dichotomical scheme according to which its fragments are established and understood, i. e., attributing them to either one of two main “parts”, following the Proem, that is, to Truth (Alêtheia) or Opinion (Doxa). A careful review of the doxographical testimonies reveals, however, sufficient indications to cast doubts over this well-accepted representation. In this paper, we would like to analyze some of these testimonials – particularly those found in Simplicius – aiming to show the evidence for an important distinction between what the Ancients called a section “On Opinion” (ta pros doxan) and the parmenidean Cosmogony properly. We shall see that this hypothesis implies a “reductionist” view of the Doxa, limited to verses 53-61 of fragment 8, in addition to the four verses of fragment 9. The cosmogonical account, moreover, as we would like to show, should not be simply understood as any collection of “mortal opinions” – in the sense of their devaluation in the first part of the poem (cf. B1,30; B6,4-9; B7,3-5) – but instead as importing epistemological features into the description of the origins of the present state of the universe. Finally, we extract from this picture some consequences for the understanding of the role of the argument on Being and the limits of Parmenidean “ontology”.A edição moderna do poema de Parmênides (a partir do trabalho de Fülleborn de 1795) consolidou o esquema dicotômico bem conhecido de acordo com o qual os fragmentos são estabelecidos e compreendidos, isto é, se os atribuindo a uma ou outra de duas “partes” seguintes ao Proêmio, a Verdade (Alêtheia) ou a Opinião (Doxa). Um exame cuidadoso dos testemunhos doxográficos, no entanto, revela indicações suficientes para lançar dúvidas sobre essa representação geralmente aceita. Neste artigo, analiso alguns dos testemunhos – particularmente aqueles encontrados em Simplício – com o objetivo de apontar a evidência em favor de uma importante distinção entre o que os antigos chamaram uma seção “Sobre a opinião” (ta pros doxan) e a Cosmogonia parmenídea propriamente. Veremos que essa hipótese implica uma perspectiva “deflacionária” da Doxa, que fica limitada aos versos 53–61 do fragmento 8, juntamente aos quatro versos do fragmento 9. O relato cosmogônico, ademais, não deve ser simplesmente entendido como uma coleção de “opiniões de mortais” – no sentido de sua desvalorização na primeira parte do poema (cf. B1,30; B6,4–9; B7,3–5) – mas mais bem como um discurso que importa características epistemológicas para a descrição das origens do estado presente do universo. Por fim, extraímos desse quadro algumas consequências para o entendimento do papel do argumento sobre o ser e os limites de “ontologia” parmenídea