Etiologia das uveítes em cães : estudo retrospetivo de 105 casos clínicos na região de Lisboa

Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária, área científica de ClínicaA uveíte, ou inflamação da úvea, é uma causa frequente de doença ocular no cão, levando muitas vezes à perda de visão. Os sinais clínicos de uveíte incluem hiperémia conjuntival, congestão dos vasos episclerais, edema da córnea, efeito de Tyndall positivo, hipópion, hifema, precipitados queráticos, coriorretinite, descolamento de retina, inflamação vítrea e diminuição da pressão intraocular. A uveíte surge por diversas causas, podendo ser resultado de uma doença ocular primária ou manifestação de uma doença sistémica. O objetivo deste estudo retrospetivo foi identificar as etiologias mais comuns de uveíte em cães da região de Lisboa, contribuindo para um melhor conhecimento da apresentação clínica das doenças, caracterizando a população em estudo e as diferentes etiologias possíveis. Foram incluídos neste estudo 105 canídeos que se apresentaram à consulta de oftalmologia do Hospital Escolar da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa entre dezembro de 2017 e março de 2023. Do total de animais, 55,2% (58/105) eram machos e 44,8% (47/105) fêmeas. Em relação às raças mais afetadas, 27,6% (29/105) animais eram de raça indeterminada, 8,6% (9/105) Labrador Retriever, 6,7% (7/105) Yorkshire Terrier e 36 outras raças surgem representadas com 1 a 4 casos cada. No que se refere à etiologia, 28,6% dos animais apresentaram uveíte induzida pela lente, 22,9% de origem infeciosas, 13,3% traumáticas, 12,4% idiopáticas, 7,6% uveíte reflexa a ulceração corneana, 6,7% por doença metabólica, 2,9% neoplásica, 2,9% imunomediadas e 2,9% por causas inflamatórias. Nos casos em que a etiologia da uveíte era desconhecida realizaram se exames complementares de diagnóstico. A etiologia idiopática foi considerada quando não havia alterações no hemograma nem nos parâmetros bioquímicos gerais assim como serologias negativas para Leishmania infantum, Anaplasma spp, Ehrlichia canis e Ehrlichia ewingii, Dirofilaria immitis, Borrelia burgoferi, Rickettsia spp. e Babesia canis. Casos de olho vermelho são por vezes incorretamente considerados conjuntivites, sendo as uveítes subdiagnosticadas. A realização de exames complementares de diagnóstico e instituição do tratamento etiológico adequado são fundamentais para evitar sequelas irreversíveis ao nível do globo ocular. Em cães da região de Lisboa com uveíte de causa desconhecida recomenda-se, numa primeira abordagem, aliado a uma anamnese extensiva, um exame físico e oftalmológico completos, a realização de um hemograma, bioquímicas gerais e serologias para despiste de leishmaniose e rickettsioseABSTRACT - Etiology of Uveitis in Dogs- Retrospective Study of 105 Clinical Cases in Lisbon Region - Uveitis, or inflammation of the uvea, is a frequent cause of eye disease in dogs that often leads to vision loss. Clinical signs of uveitis include conjunctival hyperemia, episcleral vessel congestion, corneal edema, positive Tyndall effect, hypopyon, hyphema, keratic precipitates, chorioretinitis, retinal detachment, vitreous inflammation, and decreased intraocular pressure. Uveitis arises from various causes and may be the result of a primary ocular disease or the manifestation of a systemic disease. The aim of this retrospective study was to identify the most common etiologies of uveitis in dogs in the Lisbon region, in Portugal, and contribute to a better understanding of the clinical presentation of the diseases, characterizing the study population and the different possible etiologies. This study included 105 dogs that presented to the ophthalmology consultation at the Hospital Escolar da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa between December 2017 and March 2023. Of the total number of animals, 55.2% (58/105) were males and 44.8% (47/105) females. Regarding the most affected breeds, 27.6% (29/105) animals were mixed breed, 8.6% (9/105) Labrador Retriever, 6.7% (7/105) Yorkshire Terrier and 36 other breeds appear represented with 1 to 4 cases each. Regarding the etiology, 28.6% of the animals had lens-induced uveitis, 22.9% of infectious origin, 13.3% traumatic, 12.4% idiopathic, 7.6% reflex uveitis to corneal ulceration, 6.7% due to metabolic disease, 2.9% for neoplastic, 2.9% for immune-mediated and 2.9% for inflammatory causes. In cases where the etiology of the uveitis was unknown, complementary diagnostic tests were performed. Idiopathic etiology was considered when there were no changes in blood count or general biochemical parameters, as well as negative serology for Leishmania infantum, Anaplasma spp, Ehrlichia canis and Ehrlichia ewingii, Dirofilaria immitis, Borrelia burgoferi, Rickettsia spp. and Babesia canis. The cases of red eye are sometimes incorrectly seen as conjunctivitis, with uveitis being underdiagnosed. Performing complementary diagnostic tests and instituting the appropriate etiological treatment are essential to avoid irreversible sequelae in terms of the eyeball. In dogs from the Lisbon region with uveitis of unknown cause, it is recommended, as a first approach, combined with an extensive anamnesis, a complete physical and ophthalmological examination, carrying out a blood count, general biochemistry and serology to screen for leishmaniasis and rickettsiosisN/