Branquitude na creche : relações educativo-pedagógicas com crianças de zero a três anos, em uma instituição educacional de Curitiba, PR

Orientadora: Profa. Dra. Angela Maria Scalabrin CoutinhoCoorientadora: Profa. Dra. Lucimar Rosa DiasDissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Defesa : Curitiba, 10/12/2021Inclui referências: p. 146-153Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar por meio de quais processos a branquitude se revela e se materializa nas relações educativo-pedagógicas, no contexto de um Centro Municipal de Educação Infantil da Rede Municipal de Curitiba-PR, com foco em uma turma de crianças entre 1 ano e 1 ano e 11 meses de idade. A pesquisa, de abordagem qualitativa, teve dois momentos: o primeiro, de observação-participante junto às crianças e às professoras; e o segundo, devido ao isolamento social em decorrência da pandemia da Covid-19, no qual se realizaram rodas de conversa online com as professoras. Utilizaram-se, como instrumentos de pesquisa, o diário de campo, fotografias, vídeos e conversas. As discussões basearam-se em pesquisadores(as) dos e Estudos Sociais da Infância, entre eles, Willian Corsaro (2011), Ângela Maria Scalabrin Coutinho (2010), Jens Qvortrup (2010), Fúlvia Rosemberg (2014) e Manuel Jacinto Sarmento (2008). Para os conceitos de branquitude e raça, os diálogos foram com os seguintes autores/as: Maria Aparecida Silva Bento (2002), Lourenço Cardoso (2008), Cintia Cardoso (2018), Flavio Santiago (2019), Lia Vainer Schucman (2014) e Lucimar Rosa Dias (2012). Para a compreensão dos dados, optou-se pela metodologia Análise Crítica de Narrativas e Atribuição de Sentidos. Os dados revelaram que a branquitude normativa se materializa na organização dos espaços, na seleção de materiais e de brinquedos da instituição e, sobretudo, nas interações entre adultos e crianças. Foi possível constatar o privilégio de ser criança branca nesse local, no tratamento mais afetivo dispensado a elas pelas professoras em situações do cotidiano, tais como atribuições de apelidos carinhosos, ressaltando a identidade branca e complacência em relação a comportamentos considerados transgressores para crianças não brancas. Identificouse, entre as professoras, a prevalência de racialização apenas de crianças negras, o não reconhecimento de si como pessoas brancas e, ao mesmo tempo, a funcionalidade do "Pacto Narcísico", para explicar as relações estruturadas pela branquitude normativa e o medo como componente relacionado a Educação para as Relações Étnico-Raciais. E, por fim, um aspecto importante da pesquisa foi identificar que o conceito de branquitude era desconhecido pelas professoras, e que o processo da pesquisa provocou inquietações e o "despertar da racialidade" nessas profissionais, que se mostraram interessadas em aprender sobre o tema no sentido de qualificar sua prática profissional.Abstract: The objective of this research was to analyze through which processes whiteness is revealed and materialized in educational-pedagogical relations, in the context of a Municipal Center for Early Childhood Education of the City of Curitiba, state of Paraná, Brazil, focusing on a class of children between 1 year and 1 year and 11 months of age. The approach of this research was qualitative, comprizing two moments: firstly, a participant observation with children and teachers; and the second, due to social isolation and to the Covid-19 pandemic, there had been online conversation circles held with teachers. Field diary, photographs, videos and conversations were used as research instruments. The discussions were based on researchers from Social Studies of Childhood, among them, Willian Corsaro (2011), Ângela Maria Scalabrin Coutinho (2010), Jens Qvortrup (2010), Fúlvia Rosemberg (2014) and Manuel Jacinto Sarmento (2008). For the concepts of whiteness and race, the dialogues were between the following authors: Maria Aparecida Silva Bento (2002), Lourenço Cardoso (2008), Cintia Cardoso (2018), Flavio Santiago (2019), Lia Vainer Schucman (2014) e Lucimar Rosa Dias (2012). To understand the data, the methodology Critical Analysis of Narratives and Attribution of Meanings was used. The data show that normative whiteness materializes in the organization of spaces, in the selection of materials and toys of the institution, and, above all, in the interactions between adults and children. It was possible to verify the privilege of being a white child in this place, in the more affective treatment given to them by the teachers in everyday situations, such as attributions of affectionate nicknames, emphasizing the white identity and complacency in relation to behaviors considered transgressors regarding non-white children. Among the teachers, we identified the prevalence of racialization only of black children, the non-recognition of themselves as white people and, at the same time, the functionality of the "Narcissistic Pact", to explain the relationships structured by normative whiteness and fear as a component related to Education for Ethnic-Racial Relations. Finally, an important aspect of the research was to identify that the concept of whiteness was unknown to the teachers, and that the research process provoked concerns and the "awakening of raciality" in these professionals, who were interested in learning about the theme in order to qualify their professional practice