Construção de uma escala adaptada de avaliação do desenvolvimento cognitivo de crianças com Transtorno do Espectro Autista, a partir de um programa remoto de intervenção

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que atinge uma parcela significativa da população mundial e acarreta diversas alterações, entre elas cognitivas e comportamentais, que afetam a funcionalidade e a autonomia desses indivíduos. Intervenções precoces baseadas no enriquecimento do ambiente possibilitam mudanças cognitivas e comportamentais mais significativas, devido a uma maior plasticidade cerebral na infância e têm sido propostas para desenvolver o indivíduo com TEA. No entanto, é preciso buscar formas individualizadas de avaliação desses ganhos cognitivos, diante da heterogeneidade encontrada nos perfis dos autistas. Assim, esta pesquisa teve como objetivo desenvolver uma escala adaptada para avaliação dos avanços cognitivos para o programa de intervenção remota com crianças com TEA de 4-5 anos atendidas remotamente numa proposta de enriquecimento ambiental pela Associação Caminho Azul (ACA). A pesquisa, que foi dividia em três etapas, contou com a participação de 10 terapeutas voluntários da ACA e 4 famílias (5 crianças com TEA e 8 responsáveis). Na etapa inicial foi realizada uma análise qualitativa da percepção dos pais e dos terapeutas envolvidos sobre os avanços cognitivos das crianças. Essa análise serviu de base para a construção da escala realizada na etapa seguinte. A segunda etapa contou com a construção de 5 escalas com a utilização da metodologia GAS (Goal Attainment Scaling), a fim de se avaliar quantitativamente os avanços cognitivos alcançados por cada criança com o desenvolvimento das intervenções terapêuticas. E na última etapa foi feita uma análise dos ganhos de autonomia e funcionalidade das crianças com TEA, a partir dos dados coletados nas etapas anteriores. A análise da percepção dos pais indica os pontos de angústia e preocupações em relação ao desenvolvimento de seus filhos, como os déficits de comunicação e a rigidez comportamental. Por outro lado, os terapeutas preocuparam-se com a particularidade da execução dos atendimentos online. Pais e terapeutas verificaram diversos ganhos cognitivos das crianças com as intervenções. As crianças obtiveram ganhos significativos, como o aprimoramento do desenvolvimento psicomotor, da receptividade, da comunicação e da interação com os pais e pares. Reduziram comportamentos de autolesão e estereotipias, obtiveram melhor desempenho nas atividades de vida diária (AVDs) e na concentração, mostram-se mais flexíveis no brincar e com padrões menos rígidos de comportamento. O caráter individualizado da escala adaptada permitiu avaliar avanços significativos alcançados a partir das intervenções. Sua aplicação durante a proposta terapêutica, mostrou-se útil para que os terapeutas pudessem gerenciar a continuidade do processo. Concluiu-se que as intervenções propostas pela ACA foram fontes importantes de estimulação e aprendizagem, contribuindo para habilitar funções cognitivas e reduzir o impacto dos prejuízos intrínsecos ao TEA que afetam a funcionalidade e autonomia das crianças participantes. Devido ao caráter individualizado de avaliação das escalas adaptadas construídas, foi possível evitar uma padronização das metas traçadas. Dessa forma, sugere-se o uso da escala adaptada como base para auxiliar tanto terapeutas quanto professores a serem mais específicos ao avaliarem as intervenções realizadas e a traçarem em conjunto com os pais metas passíveis de observação, contribuindo na redução da ansiedade parental.Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder that affects a significant portion of the world population and causes several changes, including cognitive and behavioral, that affect the functionality and autonomy of these individuals. Early interventions based on enrichment of the environment enable more significant cognitive and behavioral changes, due to greater brain plasticity in childhood and have been proposed to develop the individual with ASD. However, it is necessary to seek individualized ways of evaluating these cognitive gains, given the heterogeneity found in the profiles of autistic people. Thus, this research aimed to develop an adapted scale to assess cognitive advances for the remote intervention program with children with ASD aged 4-5 years assisted remotely in a proposal for environmental enrichment by the Associação Caminho Azul (ACA). The research, which was divided into three stages, had the participation of 10 volunteer ACA therapists and 4 families (5 children with ASD and 8 parents). In the initial stage, a qualitative analysis of the parents' and therapists' perception of the children's cognitive advances was carried out. This analysis served as the basis for the construction of the scale carried out in the next step. The second stage involved the construction of 5 scales using the GAS (Goal Attainment Scaling) methodology, in order to quantitatively assess the cognitive advances achieved by each child with the development of therapeutic interventions. And in the last step, an analysis was made of the gains in autonomy and functionality of children with ASD, based on the data collected in the previous steps. The analysis of the parents' perception indicates the points of anguish and concerns regarding the development of their children, such as communication deficits and behavioral rigidity. On the other hand, therapists were concerned with the particularity of performing online consultations. Parents and therapists found several cognitive gains in children with the interventions. The children obtained significant gains, such as the improvement of psychomotor development, receptivity, communication and interaction with parents and peers. They reduced self-injury and stereotypy behaviors, performed better in activities of daily living (ADLs) and concentration, showed to be more flexible in playing and with less rigid patterns of behavior. The individualized character of the adapted scale made it possible to evaluate significant advances achieved from the interventions. Its application during the therapeutic proposal proved to be useful for therapists to manage the continuity of the process. It was concluded that the interventions proposed by the ACA were important sources of stimulation and learning, contributing to enable cognitive functions and reduce the impact of intrinsic damage to ASD that affect the functionality and autonomy of the participating children. Due to the individualized character of the evaluation of the adapted scales constructed, it was possible to avoid a standardization of the outlined goals. Thus, the use of the adapted scale is suggested as a basis to help both therapists and teachers to be more specific when evaluating the interventions carried out and to outline observable goals together with parents, contributing to the reduction of parental anxiety.123 p