Tradicionalidade de uso das plantas medicinais da Farmacopeia Brasileira

No Brasil contemporâneo, a relevância dos vegetais para a saúde pública está refletida na existência da PNPMF e de regulamentações da ANVISA voltadas para drogas vegetais e fitoterápicos. Entre elas, as monografias de plantas medicinais da Farmacopeia Brasileira estabelecem os requisitos de qualidade, sendo fundamental na elaboração, produção e controle de qualidade das plantas medicinais. Tendo em vista que o objetivo destas políticas é garantir o uso seguro e racional das plantas medicinais e também valorização da sociobiodiversidade brasileira, este trabalho teve como objetivo analisar como a 6a Edição da Farmacopeia Brasileira reflete a diversidade não só biológica, mas também cultural do país através da tradicionalidade de uso das espécies vegetais nativas do Brasil que nela estão contempladas. Foi realizada uma triagem das espécies vegetais nativas brasileiras citadas nas monografias de plantas medicinais na 6ª Edição da Farmacopeia Brasileira, sendo encontradas apenas 25 espécies nativas das 106 citadas. A partir das bases de dados a Flora e Funga do Brasil do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, World Flora Online, Plants of the World Online e Tropicos, a nomenclatura científica das espécies nativas citadas também foi verificada, encontrando 10 nomes com erros. Seguindo a seleção das espécies, foi feito um levantamento bibliográfico sobre a tradicionalidade de uso destas espécies no Brasil a partir de estudos etnobotânicos que citam algum uso tradicional para cada espécie publicados nos últimos 10 anos. Para isso foi realizado um banco de dados contendo: nomes científicos atualizados, nomes populares, usos, partes utilizadas, comunidade provedora da informação e sua classificação (conforme citados no artigo), estado da federação em que se encontra a comunidade e artigos em as espécies foram citadas. Considerando os resultados do trabalho e o fato do país possuir a maior biodiversidade mundial e uma grande riqueza de conhecimentos sobre o manejo e uso das plantas medicinais, fica claro que a Farmacopeia Brasileira apresenta lacunas relativas à representação da diversidade não só biológica, mas também cultural do país. Assim, é possível afirmar que uma maior atenção deve ser dada à área da Botânica e da Etnobotânica na constituição das políticas públicas de modo a preencher lacunas existentes e cumprir com seus objetivos. Destaca-se a importância de bancos de dados como do presente estudo como uma ferramenta para proteção do conhecimento tradicional e do patrimônio genético do país.In Brazil, the relevance of plants for public health is reflected in the existence of the PNPMF and ANVISA regulations aimed at plant drugs and herbal medicines. Among them, the monographs of medicinal plants of the Brazilian Pharmacopoeia establish the quality requirements, being fundamental in the elaboration, production and quality control of medicinal plants. The objective of these policies is to guarantee the safe and rational use of medicinal plants and also the appreciation of Brazilian sociobiodiversity. So, this work aims to analyze how the 6th Edition of the Brazilian Pharmacopoeia reflects not only the biological diversity,but also the cultural diversity of the country by the traditional use of plant species native that are included in it. A searching of native Brazilian plant species cited in the monographs of medicinal plants in the 6th Edition of the Brazilian Pharmacopoeia was carried out, and only 25 native species were found out of the 106 cited. From the Flora and Funga do Brasil databases of the Botanical Garden of Rio de Janeiro, World Flora Online, Plants of the World Online and Tropicos, the scientific nomenclature of the cited native species was also verified, finding 10 names with erros. Following the selection of species, a bibliographic survey was carried out on the traditional use of these species in Brazil based on ethnobotanical studies that cite some traditional use for each species published in the last 10 years. With this search, a database was created with the following information compiled by species: updated scientific names, popular names, uses, used parts, information provider community and classification (as mentioned in the article), state of federation in which the community is located and articles on the species were cited. Considering the results and the fact that Brazil has the greatest biodiversity in the world and a great wealth of knowledge about the management and use of medicinal plants, it is clear that the Brazilian Pharmacopoeia presents gaps related to the representation of diversity, not only biological, but also cultural from the country. Thus, a greater attention should be given to the area of Botany and Ethnobotany in the constitution of public policies in order to fill existing gaps and fulfill its objectives. The importance of databases such as the present study is highlighted as a tool for the protection of traditional knowledge and the country's genetic heritage.223 p