Ao sabor das conversas: diálogos e metacrônicas em Moça deitada na grama de Carlos Drummond de Andrade

A presente pesquisa se debruça sobre Moça deitada na grama (1987), livro de Carlos Drummond de Andrade, que contém uma coletânea de sessenta crônicas, publicadas entre as décadas de 1970-1980, no Jornal do Brasil. Trata-se de um livro lançado postumamente, porém, não por intenção do autor. Durante a leitura, levantou-se a hipótese de haver, entre as crônicas do livro, três tipos de diálogos, desenvolvidos pelo narrador drummondiano: entre o autor e o um personagem encontrado num contexto cotidiano; entre o narrador e seu leitor; e diálogos em que o este não se dirige a ninguém especificamente, porém, elabora, no processo da escrita, reflexões consigo mesmo. Estes dois últimos tipos pareceram conduzir a um exercício metalinguístico, uma vez que o narrador, ao conversar com o leitor e consigo, em companhia do leitor, reflete sobre a crônica e sobre os usos da língua, criando, então, metacrônicas. Buscou-se identificar esses tipos de diálogo em seis crônicas selecionadas da obra estudada. Foi encontrada no trabalho uma recorrência de diálogos autorreflexivos, mesmo em crônicas que tinham como foco uma conversa entre o autor e outra pessoa, sendo esses atravessamentos considerados uma característica do narrador drummondiano.The present research focuses on Moça deitada na grama (1987), a Carlos Drummond de Andrade’s book, that contains a collection of sixty chronicles published between the decades of 1970-1980, in the Jornal do Brasil. It is a book released posthumously, however, not by the author's intention. During the reading, the hypothesis was raised that there are, among the chronicles of the book, three types of dialogues, developed by the Drummondian narrator: between the author and the one character found in a daily context; between the narrator and his reader; and dialogues in which the author is not addressed to anyone specifically, however, it elaborates, in the process of writing, reflections with itself. These last two types seemed to lead to a metalinguistic exercise, since the narrator, when talking with the reader and with himself, in the reader's company, reflects on the chronicle and on the uses of the language, creating, then, metachronic. We sought to identify these types of dialogue in six selected chronicles of the work studied. A recurrence of self-reflective dialogues was found in the work, even in chronicles that focused on a conversation between the author and another person, these crossings being considered a characteristic of the Drummondian narrator.105 p