Estudos de associação entre os genes ACE e TGFB1 e a gravidade da silicose e a suscetibilidade à silicotuberculose em trabalhadores expostos à sílica no Estado do Rio de Janeiro

A silicose, doença pulmonar decorrente da inalação e deposição de poeira contendo sílica cristalina, é a pneumoconiose mais prevalente no Brasil e no mundo. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, a silicose pode ser classificada como simples ou complicada pela observação do tamanho e extensão das opacidades pulmonares na radiografia de tórax. A etiologia da silicose é caracterizada pela influência de fatores extrínsecos e intrínsecos, sendo os fatores extrínsecos mais evidentes por se tratar de uma doença ocupacional. Entretanto, indivíduos expostos às mesmas condições podem desenvolver diferentes formas da doença. Além disso, a silicotuberculose é a principal comorbidade da silicose, sendo o risco relativo de desenvolvimento da tuberculose pulmonar em pacientes silicóticos 2,8 vezes maior em comparação com indivíduos expostos nãosilicóticos e a taxa de suscetibilidade e mortalidade pela tuberculose aproximadamente 40 vezes maior em indivíduos silicóticos em comparação à população em geral. Assim, a hipótese deste trabalho é de que diferenças genéticas individuais podem influenciar a gravidade da silicose e suscetibilidade à silicotuberculose em trabalhadores expostos à sílica. O presente estudo teve como objetivo principal analisar a associação entre os polimorfismos Ins/Del (rs4646994) no gene ACE e -509C>T (rs1800469) em TGFB1 e a gravidade da silicose, como também a suscetibilidade à silicotuberculose nesses trabalhadores. As amostras de DNA foram obtidas a partir da saliva de 129 pacientes com histórico de exposição à sílica, recrutados nos Hospitais Universitários Antônio Pedro (HUAP) e Pedro Ernesto (HUPE) e na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-Fiocruz). Para a genotipagem dos polimorfismos foram utilizadas as técnicas de PCR convencional ou PCR em tempo real. As frequências genotípicas do grupo de silicose simples para o polimorfismo Ins/Del em ACE foram 0,54 Del/Del, 0,43 Del/Ins e 0,03 Ins/Ins. Já no grupo de silicose complicada foram 0,65 Del/Del, 0,32 Del/Ins e 0,03 Ins/Ins. Para o polimorfismo -509C>T em TGFB1 as frequências foram 0,37 CC, 0,41 CT e 0,22 TT para silicose simples e 0,47 CC, 0,43 CT e 0,10 TT para silicose complicada. Após análise estatística, não foram observadas associações significativas entre os dois polimorfismos e a gravidade da silicose (p= 0,481 e p= 0,148, respectivamente). As frequências genotípicas do grupo de silicóticos sem tuberculose para o polimorfismo Ins/Del foram 0,62 Del/Del, 0,36 Del/Ins e 0,02 Ins/Ins. Já no grupo de pacientes com tuberculose 0,62 Del/Del, 0,35 Del/Ins e 0,03 Ins/Ins. Para o polimorfismo -509C>T as frequências foram 0,44 CC, 0,42 CT e 0,14 TT para pacientes silicóticos sem tuberculose e 0,43 CC, 0,43 CT e 0,14 TT para pacientes com tuberculose. Após análise estatística, não foram observadas associações significativas entre os polimorfismos e a suscetibilidade à silicotuberculose (p= 0,879 e p= 0,990, respectivamente). Entretanto, em um modelo de regressão logística para silicose incluindo as variáveis tempo de exposição à sílica, tempo de afastamento das atividades profissionais e os genótipos de ACE Ins/Del e TGFB1 -509C>T, observou-se uma associação estatisticamente significativa para um modelo dominante do alelo C de TGFB1 -509C>T (p= 0,041; OR= 3,445; IC 95%: 1,052 - 11,283) com a silicose complicada, sem influência significativa das outras variáveis incluídas no modelo. Os dados gerados neste estudo contribuem para um melhor conhecimento a respeito das bases genéticas da silicose e da silicotuberculose, doenças pouco estudadas em nossa população.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorConselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoFundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de JaneiroPró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação - Universidade Federal FluminenseSilicosis, a lung disease resulting from inhalation and deposition of dust containing crystalline silica, is the most prevalent pneumoconiosis in Brazil and worldwide. According to the International Labor Organization, silicosis can be classified as simple or complicated by observing the size and extent of pulmonary opacities on a chest X-ray. The etiology of silicosis is characterized by the influence of extrinsic and intrinsic factors, the extrinsic factors being more evident because it is an occupational disease. However, individuals exposed to the same conditions can develop different forms of the disease. In addition, silicotuberculosis is the main comorbidity of silicosis, with the relative risk of developing pulmonary tuberculosis in silicotic patients being 2.8 times higher compared to non-silicotic exposed individuals, and the tuberculosis susceptibility and mortality rate approximately 40 times higher in silicotic individuals compared to the general population. Thus, the hypothesis of this work is that individual genetic differences may influence the severity of silicosis and susceptibility to silicotuberculosis in workers exposed to silica. The present study aimed to analyze the association between the Ins/Del (rs4646994) polymorphisms in the ACE gene and -509C>T (rs1800469) in TGFB1 and the severity of silicosis, as well as the susceptibility to silicotuberculosis in these workers. DNA samples were obtained from buccal cells of 129 patients with a history of exposure to silica, recruited at the Antônio Pedro (HUAP) and Pedro Ernesto (HUPE) University Hospitals and at the National School of Public Health (ENSPFiocruz). For the genotyping of the polymorphisms, PCR or real time PCR techniques were used. The genotypic frequencies of the simple silicosis group for the Ins/Del polymorphism in ACE were 0.54 Del/Del, 0.43 Del/Ins, and 0.03 Ins/Ins. In the group of complicated silicosis, there were 0.65 Del/Del, 0.32 Del/Ins, and 0.03 Ins/Ins. For the -509C>T polymorphism in TGFB1 the frequencies were 0.37 CC, 0.41 CT, and 0.22 TT for simple silicosis and 0.47 CC, 0.43 CT, and 0.10 TT for complicated silicosis. After statistical analysis, no significant associations were observed between the two polymorphisms and the severity of silicosis (p= 0.481 and p= 0.148, respectively). The genotypic frequencies of the group of silicosis without tuberculosis for the Ins/Del polymorphism were 0.62 Del/Del, 0.36 Del/Ins, and 0.02 Ins/Ins. In the group of patients with tuberculosis, 0.62 Del/Del, 0.35 Del/Ins, and 0.03 Ins/Ins. For the -509C>T polymorphism, the frequencies were 0.44 CC, 0.42 CT, and 0.14 TT for silicosis patients without tuberculosis and 0.43 CC, 0.43 CT, and 0.14 TT for patients with tuberculosis. After statistical analysis, no significant associations were observed between both polymorphisms and susceptibility to silicotuberculosis (p= 0.879 and p= 0.990, respectively). However, in a logistic regression model for silicosis including the variables silica exposure duration, years since last exposure to silica and the genotypes of ACE Ins/Del and TGFB1 -509C>T, a statistically significant association was observed for a dominant model of C allele of the TGFB1 -509C>T (p= 0.041; OR= 3.445; 95% CI: 1.052 - 11.283) with complicated silicosis, with no significant influence of the other variables included in the model. The data generated in this study contribute to a better understanding of the genetic bases of silicosis and silicotuberculosis, two diseases barely studied in our population.87 f