Deuses e charlatães: a tirania do medo na literatura

A partir do estudo da mimesis, baseado em três perspectivas distintas, mas que se conectam essencialmente, ainda que por meio de um movimento dialético, esta tese busca estabelecer a conexão existente, e seus limites, entre o afeto de medo e a literatura, embasando-se tanto pela psicanálise freudiana quanto pela filosofia que se debruça sobre a mimesis, por meio de pensadores incontornáveis para tal, a saber, Platão, Aristóteles, René Girard e Sigmund Freud. Os três primeiros para o estudo direto da mimesis, segundo suas ideias e o último, principalmente, para a reflexão acerca do afeto de medo bastante analisado e por muito tempo pelos estudos acerca do inconsciente, que, em fundamento, nascem das análises sobre esse afeto. Isso se faz para que se possa entender como a alteridade humana ocorre tanto na criação literária quanto se desdobra por meio dessa, conforme as narrativas trabalham esta temática, pois o que se propõe nesta tese é a percepção de uma possibilidade às avessas, que serve menos para se valer do entendimento de um outro ser para uma positividade inter-relacional do que para uma negatividade ativa, que visa, ora à supressão do lugar de fala de outrem, ora à aniquilação daquele outro que se pretende ter o conhecimento, por meio do conceito que aqui se chamará de alteridade mortal. Com isso, o que se objetiva nesta tese é o estudo da tríade analítica composta pela mimesis, pelo medo e pela alteridade, para que se possa revelar como em obras de autores demasiado distintos, Gênesis, de Moisés, Édipo Rei, de Sófocles e Mário e o Mágico, de Thomas Mann, essa tríade se apresenta e demonstrar como ela se impõe ao longo de anos tanto no fazer literário quanto na recepção dessas obras.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoStarting with the study of mimesis through three different perspectives which are essentially and dialectically bound, this dissertation seeks to establish the connection between fear and literature. For that, I call into play Freud’s psychoanalytic writings and mimetic theories by philosophers such as Plato, Aristotle and René Girard. The last three authors’ contributions are taken into account for the study of mimesis. I look into Sigmund Freud’s theories to further explore the concept of fear and its longstanding connection with the idea of the unconscious mind. The psychoanalytic and philosophical writings aforementioned are examined so that I can study how human otherness has been represented in literary creation and how it unfolds through it, as various narratives capitalize on this topic. My aim is to propose yet another understanding of otherness, one which results from active negativity rather than from inter-relational positivity. This leads either to the rejection of the Other’s standpoint or to the aniquilation of whom one pretends to gain knowledge about. I call this concept mortal otherness. Therefore, I propose the study of the analytical triad encompassed by mimesis, fear and otherness and examine how, in such different works as Genesis, by Moses, Oedipus Rex, by Sophocles and Mario and the Magician by Thomas Mann, this triad presents itself and claims its place not only in the making of literature throughout the years, but also through the reception of these works166 p