VARIABILIDADE DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL SOBRE A AMÉRICA DO SUL NOS ÚLTIMOS DOIS MILÊNIOS

Resumo A variação pluviométrica na região equatorial do planeta é classicamente atribuída às flutuações latitudinais do cinturão de chuva tropical, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Novas evidências demonstram que essas variações também foram causadas pela contração/expansão desse cinturão, forçadas por mudanças na temperatura da superfície do mar e na circulação atmosférica. A porção norte do Nordeste do Brasil recebe precipitação de março a maio quando a ZCIT apresenta o seu posicionamento mais a sul, afetando o Rio Grande do Norte (RN). Nesses meses, a maior atividade convectiva da ZCIT confere valores mais empobrecidos de d18O nas águas das chuvas devido ao efeito de quantidade. A partir dos dados de d18O, indicadores de chuva local, obtidos em estalagmites das cavernas do Trapiá e Furna Nova (RN), datados pelo método U/Th, a variação de precipitação de ZCIT foi reconstituída para os últimos 2.000 anos. A curva composta a partir dos dados de d18O possuem resultados de ~ 0‰. Secas mais intensas são registradas entre 250-550 CE e 1070-1570 CE, com valores d18O de ~ 1,10‰ e ~ 0,83‰, respectivamente. Outros dois intervalos exibem fases mais úmidas, com valores de ~ -0,08‰ durante a Anomalia Climática Medieval (ACM) (850-1050 CE) e de ~ -0,86‰ durante a Pequena Idade do Gelo (PIG) (1570-1850 anos CE). O cinturão de nuvens tropicais esteve expandido durante o ACM, aumentando a umidade na Bacia de Cariaco, no leste da Amazônia e no RN, enquanto resultados das áreas de monções registram secas. O aquecimento do Atlântico Tropical pode gerar expansão da ZCIT, assim como perturbar o gradiente térmico entre o mar e a terra, afetando a dinâmica da pressão atmosférica e reduzindo o transporte de vapor em direção ao continente, enfraquecendo a monção. Durante a PIG os registros indicam maior deslocamento para sul da ZCIT e reduzida projeção continental sobre o leste da Amazônia, possivelmente associada ao deslocamento para noroeste do eixo de umidade que adentra na Amazônia, que intensificou a monção na maior parte da América do Sul (AS) durante a PIG. Esses resultados sugerem que durante o último milênio, o cinturão tropical não variou de forma uniforme sobre a AS e sua dinâmica influenciou a intensidade e o posicionamento das monções na AS