MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMBIENTAIS NO NORDESTE DO BRASIL DO DEGLACIAL AO MEGHALAYAN

Mudanças na insolação causadas pela precessão e obliquidade são consideradas o principal motor da precipitação tropical em escalas de tempo orbitais, responsáveis pelas mudanças na vegetação e na paisagem física durante o Holoceno Tardio na América do Sul. Tais mudanças foram investigadas na região cárstica da Chapada do Apodi – RN, Nordeste do Brasil (NEB), usando uma abordagem multiproxy com análises isotópicas de carbono ( 13C), oxigênio ( 18O) e estrôncio (87Sr/86Sr) em espeleotemas de diferentes cavernas, rocha carbonática encaixante e nos depósitos sedimentares das cavernas. Os resultados revelam que o equilíbrio entre a formação e erosão do solo, os impactos sobre a vegetação e as alterações na precipitação ocorreram em resposta às variações na posição e intensidade da Zona de Convergência Intertropical desde o deglacial, associadas à variabilidade da insolação. Valores enriquecidos de 13C e 18O e empobrecidos de 87Sr/86Sr em torno de 4.200 anos BP indicam um episódio maciço de erosão do solo, resultando na exposição de rochas carbonáticas sobre uma grande área do terreno cárstico. Esse evento marca o início da cronozona Meghalayan, caracterizada pela aridificação da região, declínio da produção do solo, extinção das drenagens subterrâneas e aumento da dominância de espécies da caatinga. Essas mudanças do Holoceno foram comparadas a densidade demográfica no NEB, inferidas a partir de idades de radiocarbono calibradas. Os resultados demonstram que o curso demográfico geral é similar à curva estabelecida para toda a América do Sul, caracterizada pela deflação da população durante o Holoceno Médio e crescimento durante o Holoceno Tardio, não correspondendo aos eventos ambientais e climáticos registrados. Estes resultados foram publicados online em 22 de outubro de 2020 na revista Quaternary Science Reviews (250, 106655, doi: 10.1016/j.quascirev.2020.106655)