Importância clínica da vitamina D

Trabalho Final de Mestrado Integrado, Ciências Farmacêuticas, 2022, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia.A importância das vitaminas como micronutrientes essenciais para o funcionamento normal do organismo humano emergiu no início do século XIX. Esta descoberta resultou de uma confluência de resultados de diferentes estudos, incluindo o tratamento empírico de certas doenças com alimentos específicos e experimentação animal com dietas muito controladas, com o objetivo de identificar os nutrientes cuja deficiência originava o aparecimento de certas doenças. O estabelecimento de relações causais entre a deficiência num determinado micronutriente e uma manifestação clínica específica revolucionou a saúde pública constituindo um avanço considerável na medicina. Na presente monografia é abordada a vitamina D, cuja descoberta, tal como nas restantes vitaminas, resultou do estudo da sua deficiência, neste caso específico, o raquitismo. Desde então, esta vitamina tem sido crescentemente implicada em múltiplos processos fisiológicos importantes. Além do mais, a suplementação e fortificação alimentar resultaram na quase total erradicação do raquitismo, e figuram-se como potenciais terapias e/ou adjuvantes num vasto número de outras patologias. Este trabalho centra-se na relevância clínica da vitamina D, com especial foco no seu impacte e relevância sobre o sistema imunitário, nomeadamente, a dois grupos de doenças a ele associadas: doenças infeciosas do trato respiratório (gripe, tuberculose e COVID-19) e doenças autoimunes (psoríase, diabetes mellitus tipo 1, artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistémico). A análise dos vários estudos permite concluir que a vitamina D parece ter uma ação de imunomodulação flexível e diversificada: por um lado tem uma ação estimulatória sobre a imunidade inata, aumentando a ação antimicrobiana de várias células e tendo propriedades antivirais, o que explica a sua relevância no tratamento de doenças infeciosas do trato respiratório. Por outro lado, parece ter um potencial de supressão da reposta imunológica adaptativa, facilitando a transição do estado pró-inflamatório a tolerogénico, sublinhando a sua ação e relevância nas doenças autoimunes. No geral, apesar da crescente evidência acerca da relevância imunológica da vitamina D e do aparente potencial da suplementação como medida de saúde publica, a revisão da literatura tornou evidente que ainda existem lacunas consideráveis neste campo. Como tal, são feitas várias sugestões de possíveis linhas de investigação futuras.The importance of vitamins as essential micronutrients for normal body functioning, was first appreciated at the start of the 19th century. This finding resulted from the confluence of multiple lines of evidence, including those relating to the empirical treatment of certain diseases with specific foods, and animal studies employing highly controlled diets to identify the elements whose deficiency underlies certain diseases. This establishment of causal relations between deficiency in a given micronutrient, and a distinct clinical syndrome, revolutionized public health, representing a considerable advance in Medicine. In this monograph the topic of vitamin D is approached. The discovery of this vitamin, as with the remaining ones, resulted from the study of the disease associated to its deficiency – rickets. Since its finding, this vitamin has been increasingly implicated in multiple key physiological processes. Moreover, the discovery of methods to activate or fortify foods, as well as of direct vitamin D supplementation, resulted in the almost complete eradication of rickets, and have emerged as potential therapies and/or adjuvants, in numerous other disorders. This work focuses on the clinical relevance of vitamin D, with a special focus on its impact and relevance over the immune system, and two groups of diseases closely associated with it: upper respiratory tract infections (flu, tuberculosis, and COVID-19) and autoimmune disorders (psoriasis, type 1 diabetes mellitus, rheumatoid arthritis, and systemic lupus erythematosus). Indeed, based on the reviewed data, vitamin D appears to have a diverse and flexible immunomodulatory action: for one, it stimulates innate immunity, increasing the antimicrobial actions of several cells, while having antiviral properties, explaining its relevance in the treatment of upper respiratory tract infections. Conversely, it appears to have a suppressive effect over the adaptive immune response, facilitating the transition from a pro-inflammatory to a tolerogenic state, underlining its action and relevance in autoimmune disorders. Overall, despite the increasing evidence regarding the immunologic relevance of vitamin D, and the apparent public health potential of supplementation, it became evident during the review of the literature that there are still significant lacunae in this field. Therefore, several possible future lines of research are suggested