da biossíntese à terapêutica

Trabalho Final de Mestrado Integrado, Ciências Farmacêuticas, 2022, Universidade de Lisboa, Faculdade de Farmácia.Os biossurfactantes são compostos tensoativos de origem microbiana, capazes de reduzir a tensão superficial nas interfaces entre líquidos, sólidos e gases, permitindo assim que prontamente se misturem ou se dispersem enquanto emulsões em água ou outros líquidos. A enorme procura do mercado por tensoativos é, na maior parte das vezes, atendida por tensoativos químicos sintéticos, principalmente à base de petróleo. Estes compostos são geralmente tóxicos para o meio ambiente e não biodegradáveis. A restrição das regulamentações ambientais e o aumento da consciencialização sobre a necessidade de proteger os ecossistemas levaram efetivamente a um maior interesse nos biossurfactantes como possíveis alternativas aos químicos. A grande maioria dos surfactantes usados comercialmente ganhou importância dadas as suas consideráveis propriedades como baixa toxicidade, natureza biodegradável, potencial eficácia a temperaturas ou pH extremos e diversidade. A sua gama de aplicações inclui a indústria do petróleo e a biorremediação ambiental, bem como a indústria alimentar e as indústrias farmacêutica e cosmética. Mas durante a última década, a utilização e potenciais aplicações comerciais dos biossurfactantes aumentou consideravelmente no setor da saúde. As suas atividades antibacteriana, antifúngica, antiparasitária e antiviral tornaram-nos relevantes no combate a diversas doenças, atuando como agentes terapêuticos. Além disso, enquanto agentes antiadesivos são úteis para o revestimento adequado de materiais de inserção médica, levando a uma redução no grande número de infeções hospitalares sem recorrer a fármacos e químicos sintéticos. Os glicolípidos são o tipo de biossurfactantes mais afamado de entre os compostos tensioativos, podendo ser classificados como glicolípidos simples ou compostos. Salvo poucas exceções, as etapas biossintéticas exatas da maioria dos glicolípidos simples ainda não são totalmente compreendidas. No entanto, de forma geral, implicam o fornecimento e a ligação de precursores glicosil e lipídicos, ligação essa que é principalmente via ligações O-glicosídicas ou éster, formadas por glicosiltransferases ou aciltransferases, respetivamente. Na presente monografia são apresentadas de forma clarificada o conceito e possíveis aplicações dos biossurfactantes, acompanhando o seu percurso desde a biossíntese até à terapêutica.Biosurfactants are surface-active compounds of microbial origin, capable of reducing surface tension at the interfaces between liquids, solids and gases, thus allowing them to readily mix or disperse as emulsions in water or other liquids. The huge market demand for surfactants is mostly met by synthetic chemical surfactants, mainly petroleum-based. These compounds are generally toxic to the environment and non-biodegradable. Tightening environmental regulations and increasing awareness of the need to protect ecosystems have effectively led to increased interest in biosurfactants as possible alternatives to chemical surfactants. The vast majority of commercially used surfactants have gained importance given their considerable properties such as low toxicity, biodegradable nature, potential effectiveness at extreme temperatures or pH and diversity. Its range of applications includes the petroleum industry and environmental bioremediation, as well as the food industry and the pharmaceutical and cosmetic industries. But during the last decade, the use and potential commercial applications of biosurfactants has increased considerably in the healthcare sector. Their antibacterial, antifungal, antiparasitic and antiviral activities have made them relevant in the fight against various diseases, acting as therapeutic agents. Furthermore, while anti-adhesive agents, they are useful for the proper coating of medical insert materials, leading to a reduction in the large number of nosocomial infections without resorting to synthetic drugs and chemicals. Glycolipids are the most famous type of biosurfactants among surfactant compounds, and can be classified as simple or compound glycolipids. With few exceptions, the exact biosynthetic steps of most simple glycolipids are still not fully understood. However, in general, they involve the supply and binding of glycosyl and lipid precursors, which bonding is mainly via O-glycosidic or ester bonds, formed by glycosyl transferases or acyl transferases, respectively. In this monograph, the concept and possible applications of biosurfactants are presented in a clarified way, following their path from biosynthesis to therapy