Neoliberalismo, amizade e recordações eleições numa sociedade complexa do Alentejo português

A partir duma etnografia realizada na zona urbana de Évora, no Alentejo Central, entre 2014 e 2016, esta tese busca demonstrar como os sujeitos da pesquisa elaboraram as suas perceções sobre as organizações políticas e definiram as suas escolhas eleitorais. Num território conhecido pela premência das desigualdades económicas e sociais, tratei de apresentar uma descrição pormenorizada do contexto, a fim de mapear a distribuição dos capitais econômicos e sociais pela malha urbana, tendo em vista os dados oficiais sobre o país, o distrito e o concelho. Diante deste cenário sociológico, demonstrei que as autoidentificações relativamente às classes sociais estavam influenciadas pelas melhorias construídas após a inclusão de Portugal na Zona Euro, em 1986. Os efeitos das políticas de austeridade, porém, agudizaram o sentimento de pertença à classe trabalhadora, bem como se configuraram como a fronteira simbólica entre a esquerda e a direita. Com relação às coligações e os partidos de esquerda, a disputa passou a se dar em torno dos atributos pessoais dos líderes partidários, com vistas a oferecerem garantias de confiabilidade aos votantes. Por outro lado, a recordação da Revolução de Abril de 1974 mostrou-se ainda um elemento eficaz para a consolidação da relevância local do Partido Comunista. A etnografia em estudo demonstra como, nas sociedades complexas que ainda apresentam vulnerabilidade financeira, as afinidades ideológicas dos cidadãos são maleáveis, uma vez que estão condicionadas a interpretações que estes fazem sobre a conjuntura económica, às estratégias de superação das dificuldades financeiras, bem como às suas memórias individuais, articuladas, por sua vez, às memórias coletivas dos seus partidos ou grupos políticos de preferência.Based on an ethnography carried out in the urban area of Évora, in Central Alentejo, between 2014 and 2016, this thesis seeks to demonstrate how the research subjects elaborated their perceptions about political organizations and defined their electoral choices. In a territory known for its economic and social inequalities, I tried to draw up a detailed description of the context, to map the distribution of economic and social capital across the urban area, considering official data on the country, district and municipality. Faced with this sociological scenario, I demonstrated that self-identifications regarding social classes were influenced by the improvements built after Portugal's inclusion in the Eurozone, in 1986. The effects of the austerity policies, however, heightened the feeling of belonging to the working class, as well as becoming the symbolic boundary between left and right. With respect to coalitions and left-wing parties, the dispute began to revolve around the personal attributes of party leaders, with a view to offering guarantees of reliability to voters. On the other hand, the memory of the April 1974 Revolution proved to be an effective element in consolidating the local relevance of the Communist Party. This ethnography demonstrates how, in complex societies that are still financially vulnerable, the ideological affinities of citizens are malleable. They are conditioned to their interpretations of the economic situation, the strategies to overcome financial difficulties, as well as their individual memories, articulated, in turn, to collective memories emanating from their political parties or groups of choic