Três castelos portugueses em Tânger: entre tardo-medievalidade e modernidade

A presença portuguesa em Tânger cobre um período que se estende da tomada em 1471 à entrega aos britânicos em 1661. Porém, é no primeiro século de domínio que a apropriação da cidade islâmica preexistente se fez sentir com mais expressão na forma urbana e nas arquitecturas militares. Após a conquista, a grande mancha urbana, medieval e mulçulmana, foi significativamente reduzida através de um atalho, principal instrumento formal de adaptação à nova realidade política, social e militar portuguesa. Contudo, em Tânger, a construção de castelos assumiu-se como um dos mais marcantes aspectos da afirmação de um novo senhor, agora europeu e cristão, na paisagem da cidade. A antiga alcáçova moura foi substituída por um castelo de cariz tardo-gótico - Castelo de Cima - imponente imagem na acrópole da urbe, desejo principesco de D. Afonso V. À cota baixa, o burgo e a calheta reclamavam a instalação de uma fortificação que controlasse efectivamente o movimento comercial, militar e civil da cidade. Construiu-se assim o Castelo de Baixo ou Castelo Novo no tempo de D. João II, peça de uma arquitectura militar hesitante entre a mensagem retórica e o ensaio de novas técnicas militares de transição para a pirobalística. Contudo, seria a reavaliação do estado de defesa da praça em meados do século XVI que levaria ao levantamento de uma nova fortaleza à cota alta no período sebástico. Abaluartada, moderna e inexpugnável, esta cidadela veio dotar Tânger do reduto defensivo que carecia. Esta comunicação tem por objectivo estabelecer um ponto de situação face ao conhecimento actual sobre a temática castelológica do tempo português na cidade de Tânger, resgatando os vestígios construídos da actual medina, confrontando-os com fontes escritas, icono e cartográficas