«Floating Worlds»: Avenue Patrice Lumumba de Guy Tillim

No breve texto prefacial que escreve para o catálogo de fotografias da série Avenue Patrice Lumumba (2008), Guy Tillim põe de lado aquelas que seriam provavelmente as duas leituras mais imediatas do seu trabalho: uma reportagem sobre a história póscolonial africana e/ou uma reflexão em torno da herança arquitectónica e urbanística da era colonialista em África. Em vez disto, Tillim contrapropõe um programa privado de motivações que passará pelo reconhecimento de uma “identidade africana” através de uma paisagem mutante que, a seus olhos, se tornaria estranha e híbrida. Demarcando-se frontalmente da sua anterior experiência de fotojornalismo enquanto membro da Afropix nos anos quentes do apartheid sul-africano, Tillim põe de lado uma particular sustentação discursiva da imagem fotojornalística, uma permeabilidade à legendagem e à textualização que funda boa parte da sua função social de guerrear um mundo que simultaneamente “dá a conhecer”. Não é a atitude intervencionista do camera warrior ou a de algum humanitarismo fotográfico que mostra intenções de aqui assumir. Pelo contrário, o que agora estará em causa coloca-se do lado de um lugar identitário pouco casável com um espaço estritamente ideológico ou com uma dimensão de territorialidade objectiva. O que serviria a explicar a amplitude do campo de representação desta série: oito dezenas de fotografias sobre seis países africanos (Angola, Benim, Congo, Gana, Madagáscar, Moçambique), atravessados por uma avenida que dá nome à série e a que corresponderá sobretudo o lugar simbólico de uma utopia panafricanista, mais do que uma topografia literalmente mapeável