Existe espaço para a cultura durante um ciberataque e uma guerra? Análise da cobertura das artes da representação no Primeiro Jornal da SIC

Relatório de estágio de mestrado apresentado à Escola Superior de Comunicação Social como parte dos requisitos para obtenção de grau de mestre em Jornalismo.A prática jornalística é pressionada pela lógica mercantil da empresa detentora do órgão de comunicação, principalmente no caso da sustentabilidade financeira das empresas privadas. No caso do jornalismo cultural, o desinvestimento na reportagem e da crítica são marcas de um jornalismo desprovido da missão de gerar debate em torno da cultura. À intenção inicial de analisar o jornalismo de teatro e cinema da SIC, dois acontecimentos no início de 2022 trouxeram novos rumos à investigação – para além de uma nova pertinência. O primeiro, de índole interna, foi o ataque informático do qual a redação foi alvo a 3 de janeiro. O segundo, de natureza externa, foi a invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro, com repercussões irreversíveis na geopolítica mundial. Esta conjuntura atípica nunca tinha sido vivida ou estudada academicamente, surgindo assim a oportunidade de um estudo de caso pioneiro na área do jornalismo cultural. O presente trabalho retrata a experiência de estágio de 31 de janeiro a 30 de junho, coincidente com esta realidade. Deste trajeto resultou o presente Relatório de Estágio, cuja estratégia metodológica é de pendor documental (revisão da literatura sobre jornalismo cultural e análise de conteúdo de 181 alinhamentos do Primeiro Jornal) e não documental (entrevistas exploratórias a profissionais da SIC e observação participante). A investigação revela como a cobertura das artes da representação se adaptou à rigidez da agenda monotemática imposta pelo conflito bélico e à mobilização dos profissionais da redação perante os entraves técnicos provocados pelo ciberataque.ABSTRACT: The journalistic practice is pressured by the mercantile logic of the company that owns the media outlet, especially when it comes to the financial sustainability of private companies. In cultural journalism, the disinvestment in reportage and cultural criticism reflects journalism’s growing incapacity of promoting debate around culture. The initial goal was to analyze SIC’s coverage of cinema and theatre. However, two major events at the beginning of 2022 brought new directions to the investigation – and a new pertinence. The first one was of internal nature, when the newsroom suffered a brutal cyber-attack on January 3rd. The second event was external, regarding the invasion of Ukraine on February 24th, with irreversible repercussions on world geopolitics. This atypical conjuncture had never been experienced nor studied academically, creating the opportunity for a pioneering case study in the field of cultural journalism. The present work portrays the internship experience from January 31st to June 30th, coincident with this new reality. The methodological strategy is documentary (literature review on cultural journalism and content analysis of 181 news lineups from the newscast Primeiro Jornal) and non-documentary (exploratory interviews with SIC professionals and participant observation). The research shows how the coverage of cinema and theatre adapted to the rigid monothematic agenda imposed by the war conflict and the mobilization of the newsroom professionals to face the technical obstacles caused by the cyberattack.N/