A experiência da sobrevivência e o crescimento pós-traumático em irmãos sobreviventes de cancro pediátrico

Dissertação de mestrado, Psicologia (Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde - Psicologia Clínica da Saúde e da Doença), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2021O cancro pode ser considerado um evento traumático com características particulares, porque se estende ao longo de muito tempo expondo o doente e a sua família a diversas situações com grande potencial disruptivo do seu equilíbrio emocional. Apesar de ser reconhecido que os irmãos sofrem efeitos, de curto e longo prazo, da sua vivência da doença, os estudos na fase de sobrevivência da criança doente são ainda escassos. Estudos recentes têm vindo a chamar à atenção para efeitos positivos da experiência do cancro nos doentes e nos seus irmãos. Objetivos. Explorar as memórias da vivência da fase ativa da doença; o crescimento póstraumático; as preocupações, as necessidades e a perceção relativamente à importância da intervenção psicológica em irmãos de sobreviventes de cancro pediátrico. Esta dissertação inclui também uma Revisão por Scoping com o objetivo de mapeamento e síntese de estudos sobre os aspetos psicossociais das vivências dos irmãos. Metodologia. Estudo exploratório qualitativo, centrado na exploração e análise das experiências da doença, com a utilização de uma entrevista semiestruturada com as dimensões definidas pelos objetivos. Para a análise recorreu-se à Análise Indutiva de Conteúdo. Resultados. Todos os irmãos recordaram memórias da fase ativa da doença. Foram identificadas memórias de situações (relatos de imagens e vivências); e memórias de emoções transversais à fase da doença. A maioria dos participantes identifica mudanças e/ou influências nas dimensões do CPT - e.g., o aumento de recursos psicológicos, vulnerabilidades, aumento de empatia, valorização da vida e motivação para a vida. A intervenção psicológica foi considerada necessária em especial nas fases iniciais. As necessidades centrais incluíam: a psicoeducação; aprendizagem de estratégias de coping com foco na resolução do problema e lidar com as emoções; lidar com a possibilidade de morte do irmão e aconselhamento antecipatório e de suporte emocional que inclua os seus pais. Conclusões. Os resultados reforçam a ideia de que os irmãos recordam com grande detalhe as experiências vividas e que para alguns irmãos essas memórias são ruminativas e potenciadoras de stress. As experiências vividas são percebidas como tendo tido, e continuando a ter, influência não só nas dimensões do CPT, mas também na sua trajetória de vida. A intervenção Psicológica é considerada útil não só como suporte emocional, mas também como preparação para o confronto com os desafios da doença.Cancer can be considered a traumatic event with particular characteristics because it extends over a long time exposing the patient and their family to various situations with great disrupt potential of their emotional balance. Although it is recognized that siblings suffer short- and long-term effects from their experience of the disease, studies on the survival phase of the sick child are still scarce. Recent studies have drawn attention to the positive effects of the cancer experience on patients and their siblings. Objectives. Explore the memories of the experience of the child’s active phase; posttraumatic growth; the concerns and needs; and perception of the importance of psychological intervention in siblings of pediatric cancer survivors. This dissertation also includes a Scoping Review with the aim of mapping and synthesizing studies on the psychosocial aspects of the sibling’s experiences. Methodology. Qualitative exploratory study, focused on the exploration and analysis of the experiences of the disease, using a semi-structured interview with the dimensions defined by the objectives. Inductive Analysis contents was used for the analysis. Results. All siblings recalled memories of the active phase of the disease. Memories of situations were identified (reports of images and experiences), and memories of emotions cross the stage of the illness. Most participants identify changes and/or influence on the dimensions of the CPT- e.g., the increase of psychological resources, vulnerabilities, increased empathy, valuing life and motivation for life. Psychological intervention was considered necessary, especially in the early stages. The core needs included: psychoeducation; learning coping strategies with a focus on problem solving and dealing with emotions; dealing with the possibility of sibling’s death, anticipatory counselling and emotional support that includes their parents. Conclusions. The results reinforce the idea that siblings remember their experiences in great detail and that for some siblings these memories are ruminative and stress enhancers. The experiences lived are perceived as having had, and continuing to have, influence not only on the dimensions of the CPT, but also on its life trajectory. Psychological intervention is considered useful not only as emotional support but also as preparation to face the challenges of the disease