Memórias de infância de homens e mulheres sobre práticas parentais, sintomatologia psicopatológica e variáveis relacionais

Dissertação de mestrado, Psicologia (Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde - Psicologia Clínica Dinâmica), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2021Este estudo foca as memórias de infância das práticas parentais, a sintomatologia psicopatológica do adulto, e a relação com a criança e com os pais ao longo da vida (variáveis relacionais). Pretendeu-se analisar, comparativamente, um grupo de homens (GH) e um grupo de mulheres (GM) nas memórias de infância (suporte emocional/rejeição/sobreproteção) e na sintomatologia psicopatológica (depressão/ansiedade/ hostilidade), bem como a relação destas variáveis entre si e de cada uma delas com as variáveis relacionais. Participaram no estudo 127 indivíduos, 55 homens (Midade=44.89; DP=6.24) e 72 mulheres (Midade=43.19; DP=5.16), com filhos (5- 12 anos). Utilizou-se o EMBU-Memórias de Infância, o BSI e um Questionário Demográfico e Psicossocial para recolha de informação sociodemográfica e referente às variáveis relacionais. Os grupos não se distinguiram nas memórias de infância, mas o GH reportou níveis mais baixos de ansiedade. Neste grupo o suporte emocional (materno e paterno) associou-se negativamente com as dimensões da sintomatologia e no GM a rejeição (materna e paterna) associou-se positivamente com estas dimensões, havendo também algumas associações com a rejeição no GH. Nos dois grupos, não ocorreram associações significativas com a proximidade na relação com a criança, mas a qualidade da relação com os progenitores associou-se positivamente com o suporte emocional (materno e paterno). No GH verificaram-se ainda associações negativas desta qualidade com a rejeição (materna/paterna); no GM ocorreu uma associação entre a relação com o pai e a rejeição paterna. Por último, a hostilidade associou-se negativamente com a qualidade na relação com o pai (GM) e com a mãe (ambos os grupos), obtendo-se no GM uma associação negativa da ansiedade com a relação com o pai. Os resultados contribuem para aprofundar a compreensão da relação entre memórias de infância das práticas parentais e sintomatologia e sugerem que o seu impacto nas relações pais-filhos pode ter características diferentes para homens e mulheres.This study focuses on the memories of parental practices in childhood, psychopathological symptomatology in adulthood and on their relationship with the offspring and parents throughout the lifespan (relational variables). The aims were to compare childhood memories (emotional support/rejection/overprotection) and psychopathological symptomatology (depression/anxiety/hostility) in a group of males (MG) and a group of females (FG), and to analyse the association between these two variables and of each with the relational variables. The participants consisted of 127 individuals, 55 males (Mage=44.89; SD=6.24) and 72 females (Mage=43.19; SD=5.16) with children (5-12 years). The EMBU (Memories of Parental Rearing), BSI and a Demographic and Psychosocial Questionnaire were used to collect sociodemographic and relational variables information. The groups did not differentiate in childhood memories, however, the MG reported lower levels of anxiety. Emotional support (maternal and paternal) associated negatively with all the symptomatology dimensions in the MG, and rejection (maternal and paternal) associated positively with these dimensions in the FG; some other associations with rejection were found in the latter. In both groups, no significant associations were found with proximity in the relationship with the child, but the relationship with the parents was positively associated with emotional support (from both parents). In the MG, the quality of the relationship with the parents was also negatively associated with rejection (maternal and paternal); in the FG an association between parental rejection and the quality of the relationship with the father was observed. Finally, hostility was negatively associated with the quality of the relationship with the father (FG) and mother (both groups); in the FG, anxiety was negatively associated with the relationship with the father. The results allow for a deeper understanding of the relationship between memories of childhood practices and symptomatology, and suggest that its impact on parent-child relationships may have different characteristics for males and females