Perturbação de stress pós-traumático, trauma na infância e comportamentos de saúde em vítimas de violência pelo parceiro íntimo

A violência pelo parceiro íntimo (VPI) é considerada um problema de saúde pública e traduz-se num fator de risco significativo para a saúde nas mulheres. Em Portugal, os estudos que privilegiam a investigação da perturbação de stress pós-traumático (PSPT), do trauma na infância e dos comportamentos de saúde em vítimas de VPI são escassos. Esta investigação pretendeu explorar as relações entre as experiências de vitimização na infância e de revitimização na idade adulta com a PSPT, avaliando, ainda, o envolvimento das mulheres em comportamentos de saúde. A amostra total foi constituída por 67 vítimas e 50 não vítimas. Foram aplicados o Questionário de Trauma Infantil (CTQ), as Escalas de Táticas de Conflito Revisadas (CTS2), o Questionário de Atitudes e Comportamentos de Saúde (QACS) e a Posttraumatic Stress Disorder Checklist (PCL-5). Os resultados indicaram que as mulheres vítimas de VPI apresentam níveis mais elevados de abusos na infância e de PSPT e incorporam no seu estilo de vida menos comportamentos de saúde, comparativamente com as mulheres não vítimas. Demonstraram que os abusos na infância e a VPI estão positivamente correlacionadas com a PSPT e que os comportamentos de saúde estão negativamente relacionados com a VPI, a PSPT e o abuso sexual na infância. Adicionalmente, atestaram o abuso físico e emocional e a agressão psicológica como os mais fortes preditores da PSPT e o abuso sexual na infância e a coerção sexual como preditores negativos no envolvimento em comportamentos de saúde. Estes resultados são discutidos à luz da literatura existente e apresentam-se implicações para a prática, limitações e questões a abordar em investigações futuras.Intimate partner violence (IPV) is considered a serious public health problem and a significant risk factor for women's health. In Portugal, studies that focus on the investigation of post-traumatic stress disorder (PTSD), childhood trauma, and health behaviors in victims of IPV are scarce. This research aimed to explore the relationships between childhood victimization and adult re-victimization experiences with PTSD, also evaluating the involvement of women in health behaviors. The total sample consisted of 67 victims and 50 non-victims. The Childhood Trauma Questionnaire (CTQ), the Revised Conflict Tactics Scales (CTS2), the Health Attitudes and Behaviors Questionnaire (QACS), and the Posttraumatic Stress Disorder Checklist (PCL-5) were applied. The results indicated that women victims of IPV have higher levels of childhood abuse and PTSD and incorporate fewer health behaviors into their lifestyles, compared to nonvictimized women. They showed that childhood abuse and IPV are positively correlated with PTSD and that health behaviors are negatively related to IPV, PTSD, and childhood sexual abuse. Additionally, they attested to physical and emotional abuse and psychological aggression as the strongest predictors of PTSD and childhood sexual abuse and sexual coercion as negative predictors of involvement in health behaviors. These results are discussed considering the existing literature and practical implications, limitations, and issues to be addressed in future investigations are presented