Padrões de vinculação e sintomatologia depressiva na idade adulta: o papel mediador da mentalização

Introdução: A propensão para o desenvolvimento de quadros depressivos ou sintomatologia depressiva na idade adulta parece depender da qualidade dos estilos de vinculação estabelecidos na infância. Por outro lado, investigações recentes têm revelado que a capacidade de mentalização pode exercer um papel mediador na compreensão da relação entre experiências precoces adversas e manifestações sintomáticas na idade adulta. Objetivo: O presente estudo visa explorar o papel mediador da mentalização na relação entre perceção da vinculação e sintomatologia depressiva numa amostra da população adulta portuguesa. Método: A amostra é constituída por 350 indivíduos (157 do sexo masculino, e 193 do sexo feminino), com idades compreendidas entre os 18 anos e os 77 anos. Os participantes preencheram um questionário sociodemográfico e três instrumentos de autorresposta, que avaliaram a sintomatologia depressiva (BSI), a vinculação (AAS-R) e a mentalização (MMQ). Resultados: Todas as variáveis em estudo revelaram-se associadas entre si e os três modelos mediacionais mostraram-se significativos. O papel mediador da mentalização (MMQ) na relação entre a ansiedade (AAS-R) e a sintomatologia depressiva (BSI) explica 46% de variância, 28% na relação entre confiança nos outros (AAS-R) e a sintomatologia depressiva, e 26% na relação entre contacto com a proximidade (AAS-R) e sintomatologia depressiva nos adultos. Conclusão: Os dados deste estudo sustentam a hipótese que uma vinculação insegura está associada ao desenvolvimento de sintomatologia depressiva na idade adulta, e que esta influência é mediada pela adequação da capacidade de mentalização do indivíduo. Os resultados sugerem assim que intervenções focadas na mentalização podem contribuir para melhorias clínicas, mesmo em indivíduos com uma história precoce pontuada por vinculações inseguras. / Introduction: The propensity for the development of depressive conditions or depressive symptoms in adulthood, seems to depend on the quality of the attachment styles established in childhood. On the other hand, recent research has revealed that the ability to mentalize can play a mediating role in understanding the relationship between early adverse experiences and symptomatic manifestations in adulthood. Objective: The present study aims to explore the mediating role of mentalization in the relationship between perception of attachment and depressive symptomatology in a sample of the portuguese adult population. Method: The sample consisted of 350 individuals (157 males and 193 females), aged between 18 and 77 years old. Participants completed a sociodemographic questionnaire and three self-report instruments, which assessed depressive symptomatology (BSI), attachment (AAS-R) and mentalization (MMQ). Results: All variables under study proved to be associated with each other and the three mediational models proved to be significant. The mediating role of mentalization (MMQ) in the relationship between anxiety (AAS-R) and depressive symptomatology (BSI) explains 46% of variance, 28% in the relationship between trust in others (AAS-R) and depressive symptomatology, and 26% in the relationship between contact with closeness (AAS-R) and depressive symptomatology in adults. Conclusion: The data from this study support the hypothesis that insecure attachment is associated with the development of depressive symptoms in adulthood, and that this influence is mediated by the adequacy of the individual's mentalization capacity. The results thus suggest that interventions focused on mentalization may contribute to clinical improvements, even in individuals with an early history punctuated by insecure attachments