Sobre a recepção das ideias evolucionistas: de Schelling a Haeckel e a Antero Notas para o seminário de doutoramento; história e filosofia das ciências

A propagação do cluster de ideias evolucionistas ao longo do século XIX mostra de modo cabal como, para citar Platão, é da natureza das ideias o se misturar. Se hoje poderíamos pensar que tudo aconteceu com e a partir de Darwin, o estudo atento mostra como a ideia de evolução se forjou num cadinho onde várias ciências, metafísica, religião e ideologia se misturaram. Praticamente todos os estudos sérios sobre a questão da recepção de Darwin e do transformismo biológico em Portugal citam o exemplo do poeta-filósofo Antero de Quental (e de seu amigo Oliveira Martins), como figura axial dessa recepção, até porque os sectores académicos mais ligados à biologia se mantiveram alheados, em parte pela muita diversidade de história natural que o nosso império lhes fornecia. Mas a verdade é que também uma das maiores figuras continentais da investigação nessa área, o alemão Haeckel inscreveu muitas das suas meditações no quadro de uma certa hegemonia da filosofia alemã no quadro do pujante sistema universitário alemão tão marcado pelas figuras de Fichte e de Humboldt. O estudo das inspirações do pensamento anteriano permite pois mostrar como ideias científicas (como havia já acontecido com o copernicanismo, ou mesmo com a cosmovisão mecanicista laplaciana) transvasam do campo científico, onde a actual cultura dos especialismos as esperava encontrar acantonadas, para o campo mais vasto que forma as mentalidades que caracterizam uma civilização num dado momento histórico. Estas notas, que estão associadas a uma investigação que se plasmará em publicações, que aguardam o prelo, visam mostrar, recorrendo a literatura actualizada, a complexidade das relações entre ciência, filosofia e mentalidade