O luto dos pais: como os homens entendem e enfrentam esta situação

Dissertação (mestrado profissional) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Florianópolis, 2022.O luto paterno ainda é um tema tabu que, associado ao fracasso da empatia na sociedade ocidental atual, pode ser entendido como um luto não reconhecido. Nele, o homem não tem espaço para chorar nem revelar as emoções que está sentindo; mas quando o faz, sofre com estigmas pré-estabelecidos, correndo o risco de ser avaliado como fraco, com impulsos internos - ao pôr em questão a sua masculinidade - e externos, através de discursos machistas. Este trabalho investigou como os pais entendem e enfrentam seu luto frente à perda de seus filhos(as), suas estratégias e recursos de enfrentamento. Realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, exploratória, por meio de entrevistas semiestruturadas e questionário on-line com oito homens em contexto de luto pela perda de filhos ou filhas. Análise de conteúdo foi utilizada para exploração dos resultados obtidos. Os resultados mostraram perdas violentas - como suicídio e acidentes automobilísticos, e de doenças agudas ou crônicas, além de perdas estacionais. Esses pais realizaram ritos de despedida, mas comumente precisaram conter seu sofrimento para assumir o papel de suporte aos familiares próximos, silenciando suas dores. Houveram relatos de sentimentos variados, da sensação de alívio para o seu luto até sensações de dor, abatimento e tristeza profunda. Os familiares tornaram-se os principais meios de suporte, ao compartilhar sentimentos e empatia, e constatou-se resistência desses pais em buscar suporte profissional. Foi possível observar mudanças estruturais de afeto, apoio e fortalecimento de vínculos entre os pais, e também rompimentos e novas expectativas de mundo dos pais diante da ausência dos filhos. Realizada no âmbito do serviço público de saúde, a pesquisa indica a necessidade de estruturação de grupos profissionais de suporte também para os pais, uma vez que há um quase hegemonia de grupos de apoio ou de promoção de saúde mental para mulheres e/ou mães, restando um vazio de oferta deste tipo de serviço para os homens quando da perda, sempre traumática, de seus filhos e filhas.Abstract: Paternal grief is still a taboo topic that, associated with the failure of empathy in current western society, can be understood as an unrecognized grief. in it, the man has no space to cry or reveal the emotions he is feeling; but when he does, he suffers from pre-established stigmas, running the risk of being evaluated as weak, with internal impulses - when questioning his masculinity - and external, through sexist speeches. this work investigated how parents understand and face their grief in the face of the loss of their children, their coping strategies and resources. a qualitative, exploratory research was carried out through semi-structured interviews and an on-line questionnaire with eight men in the context of mourning the loss of their sons or daughters. content analysis was used to explore the results obtained. the results showed violent losses - such as suicide and car accidents, and from acute or chronic diseases, in addition to seasonal losses. these parents performed farewell rites, but commonly needed to contain their suffering to assume the role of support for close family members, silencing their pain. there were reports of varied feelings, from the feeling of relief for their grief to feelings of pain, despondency and deep sadness. family members became the main means of support, by sharing feelings and empathy, and resistance from these parents was found to seek professional support. it was possible to observe structural changes in affection, support and strengthening of bonds between parents, as well as ruptures and new expectations of the parents' world in the face of the absence of children. conducted within the scope of the public health service, the research indicates the need to structure professional support groups also for parents, since there is an almost hegemony of support groups or mental health promotion for women and/or mothers, leaving a gap in the supply of this type of service for men when the loss, always traumatic, of their sons and daughters