Efeito de diferentes modelos de periodização do treinamento combinado na percepção de barreiras à prática de atividade física em adultos com obesidade: um ensaio clínico randomizado

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Desportos, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Florianópolis, 2022.Os objetivos do estudo foram: (a) determinar os fatores sociodemográficos e comportamentais associados às barreiras para a prática de atividade física em adultos com obesidade e (b) comparar o efeito de diferentes modelos de periodização do treinamento combinado na percepção de barreiras à prática de atividade física em adultos com obesidade. Foi conduzido um ensaio clínico randomizado, controlado e cego composto pelos grupos controle (GC), não periodizado (GN) e com periodização linear (GP). A intervenção consistiu em treinamento combinado (exercícios aeróbio e de força muscular em uma mesma sessão), realizado três vezes por semana, com duração de 60 minutos, durante 16 semanas. O GN manteve a intensidade (50 a 59% da frequência cardíaca de reserva [FCres], 10 a 12 repetições máximas [RMs]), enquanto o GP progrediu a intensidade em cada um dos três mesociclos (40-49% FCres, 12-14 RMs; 50-59% FCres, 10-12 RMs e 60-69% FCres, 8-10 RMs). As informações de 19 barreiras para a prática de atividade física foram obtidas por instrumento validado. Exposições sociodemográficas, comportamentais e clínicas foram coletadas pelo emprego de questionário, medidas antropométricas, acelerometria e recordatório alimentar. O estudo obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, sob o parecer 2.448.674, e foi registrado na plataforma de Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC) sob o número RBR-3c7rt3. Para as associações, empregou-se o teste de qui-quadrado de Pearson e regressão Poisson com variância robusta, em análises bruta e ajustada. Para o efeito da intervenção, utilizou-se Equações de Estimativas Generalizadas (GEE), adotando-se como resultado significativo valor p = 0,05. Dentre os 69 adultos com obesidade (42 mulheres; idade: 34,7 ± 7,2 anos) a jornada de trabalho extensa (46,3%) foi a barreira mais frequente e associou-se àqueles com cor da pele não branca (p=0,043) e com maior Índice de Massa Corporal (IMC) (p=0,001). O clima se associou àqueles com maior IMC (p=0,045). A falta de incentivo foi menos percebida pelos mais velhos (p=0,020). A falta de recursos financeiros foi menos percebida por quem trabalhava (p=0,010). A falta de habilidade associou-se a quem não trabalha (p=0,044). A falta de conhecimento foi mais relatada por aqueles que não trabalhavam (p=0,021) e tinham maior tempo de comportamento sedentário (p=0,027). Quanto ao efeito da intervenção, constatou-se uma interação entre grupo e tempo para as barreiras falta de espaço disponível (p=0,019) e falta de equipamento (p=0,011). Em ambas as barreiras, houve aumento na percepção pelo GC, com grande magnitude de efeito (d de Cohen = 0,83 e 1,11, respectivamente), enquanto no GN e GP foram diminuídas, observando-se maior redução para o GN (GN ?= -0,4; GP ?= -0,1 e GN ?= -0,6; GP ?= -0,2, respectivamente), com pequena magnitude de efeito (d de Cohen = 0,44 e 0,48, respectivamente). Observou-se, pelas respostas individuais dos sujeitos, uma redução da quantidade de barreiras percebidas, notavelmente nos grupos com treinamento combinado (GC: 4 de 14; GN: 12 de 18; GP: 10 de 17 indivíduos). As especificidades das associações observadas reforçam a importância de se considerar as particularidades das populações clínicas no estudo das barreiras. Os grupos de treinamento reduziram significativamente a percepção da barreira falta de equipamento. Não foram evidenciadas diferenças entre as formas de periodização. Do ponto de vista clínico, tanto o treinamento combinado com periodização linear quanto o não periodizado contribuíram na redução de barreiras para a prática de atividade física em adultos com obesidade.Abstract: This research aimed: (a) to determine the sociodemographic and behavioral factors associated with barriers to the practice of physical activity in adults with obesity and (b) to compare the effect of different periodization models of combined training on the perception of barriers to the practice of physical activity in adults with obesity. A randomized, controlled and blinded clinical trial was conducted, composed of control group (CG), non-periodized group (NG) and linear periodization group (PG) groups. The intervention consisted of combined training (aerobic and muscle strength exercises in the same session), three times a week, lasting 60 minutes, for 16 weeks. The NG maintained intensity (50 to 59% reserve heart rate [HRres], 10 to 12 repetition maximums [RMs]), while the PG progressed intensity in each of the three mesocycles (40-49% HRres, 12- 14 RMs; 50-59% HRres, 10-12 RMs and 60-69% HRres, 8-10 RMs). Information about 19 barriers to physical activity was obtained using a validated instrument. Sociodemographic, behavioral and clinical exposures were collected using a questionnaire, anthropometric measurements, accelerometry and food recall. The study was approved by the Ethical and Research Committee with Human Subjects of the Federal University of Santa Catarina, under protocol number 2,448,674, and was registered on the Brazilian Clinical Trials Registry (REBEC) platform under the number RBR-3c7rt3. For associations, Pearson's chi-square test and Poisson regression with robust variance were used, in crude and adjusted analyses. For the effect of the intervention, Generalized Estimating Equations (GEE) were used, adopting a p value = 0.05 as a significant result. Among the 69 adults with obesity (42 women; age: 34.6 ± 7.1 years), long working hours (46.3%) was the most frequent barrier and was associated with those with non-white skin color (p=0.043) and with the highest Body Mass Index (BMI) (p=0.001). The climate was associated with those with higher BMI (p=0.045). The lack of incentive was less perceived by the older (p=0.020). The lack of financial resources was less perceived by those who worked (p=0.010). Lack of skill was associated with those who do not work (p=0.044). Lack of knowledge was more reported by those who did not work (p=0.021) and had a longer period of sedentary behavior (p=0.027). As for the effect of the intervention, there was an interaction between group and time for the barriers lack of available space (p=0.019) and lack of equipment (p=0.011). In both barriers, there was an increase in perception by the CG, with a large magnitude of effect (Cohen's d = 0.83 and 1.11, respectively), while in the NG and PG they were reduced, with a greater reduction being observed for the NG (NG ?= -0.4; PG ?= -0.1 and NG ?= -0.6; PG ?= -0.2, respectively), with small effect magnitude (Cohen's d = 0.44 and 0.48, respectively). A reduction in the number of perceived barriers was observed, notably in the groups with combined training (CG: 4 of 14; NG: 12 of 18; PG: 10 of 17 subjects). The specificities of the observed associations reinforce the importance of considering the particularities of clinical populations in the study of barriers. The training groups significantly reduced the perception of the lack of equipment barrier. There were no differences between the forms of periodization. From a clinical point of view, the combined training with linear periodization and non-periodized contributed to reducing barriers to physical activity in adults with obesity