Infâncias contemporâneas e relações sociais no uso de tecnologias digitais: inspirações fenomenológicas

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis, 2020.Considerando a ampliação dos espaços e tempos de uso de tecnologias digitais na infância contemporânea, nessa pesquisa objetivou-se analisar como se desenvolvem as relações sociais presenciais entre crianças com idades de 6 a 12 anos enquanto utilizam de tecnologias digitais, para identificar as mediações e as relações tecnológicas que repercutem sobre a experiência. Para analisar a questão, na pesquisa, contou-se com um aporte teórico e metodológico inspirado na fenomenologia, desenvolvida por meio de observações do cotidiano das crianças em uma brinquedoteca de um Colégio de Aplicação federal durante os usos de tecnologias digitais nesse espaço. Além desse procedimento, foi realizada uma revisão sistemática de literatura para contribuir com subsídio teórico e metodológico de pesquisas na área, além de ser aplicado um questionário com as famílias para ter conhecimento do contexto doméstico de uso de tecnologias digitais pelas crianças. Assim como, buscou-se conhecer por meio de entrevistas individuais com algumas crianças as suas motivações em relação às formas de uso das tecnologias digitais. Como referenciais teóricos principais pautou-se na perspectiva fenomenológica da percepção de Merleau-Ponty (1999) aliada às relações tecnológicas de Ihde (2017) no olhar para o fenômeno. A partir da análise das observações do cotidiano, os comportamentos manifestados pelas crianças foram identificados e relacionados a três perfis de uso de tecnologias digitais, sendo eles: o colaborativo, o compartilhador e o individual. Ao analisar a presença desses três perfis, foi possível verificar que as crianças deslocam-se, transitando por eles nas suas relações sociais a partir da presença de diferentes variáveis do entorno, que incluem desde os contextos de apropriação e de usos de tecnologia por cada criança, a mediação da própria tecnologia, até as relações sociais que são estabelecidas nesses momentos de uso. Com a triangulação dos dados obtidos dos diferentes procedimentos metodológicos realizados foi sendo possível perceber que as relações tecnológicas que a criança estabelece com a tecnologia digital são variadas, construídas por diferentes aspectos da sua própria percepção da experiência com a tecnologia em relação ao seu cotidiano dentro e fora da escola, o que reverbera sobre o seu comportamento com o digital em meio as suas relações sociais. Isso apontou para possíveis mediações a serem realizadas pelas famílias e pela escola para que as crianças ampliem seus repertórios de brincadeiras e transitem pelos diferentes perfis de uso do digital, diversificando assim as suas experiências mediante a presença das tecnologias digitais e em suas relações sociais na infância.Abstract: This research aimed to analyze the development of face-to-face social relationships between children aged 6 to 12 years old when using digital technologies, considering the ever-growing use of time and space for such by contemporary children, in order to identify possible mediations and technological relationships which impact the experience itself. For this research, the theoretical and methodological contribution chosen originates from Phenomenology, and was developed from observations taken from children's daily life in a playroom of a Federal Laboratory School whilst making use of digital technologies therein. In addition to this step, a review of the literature already available in the field was carried out, in order to define possible theoretical approaches. From individual interviews, queries were carried out with the families, so that the children?s domestic context to use of digital technology could be better understood. The children's motivations regarding the ways of using digital technologies were investigated. The main theoretical references used started from the phenomenological perspective of perception, by Merleau-Ponty (1999), combined with the technological relations of Ihde (2017), aiming at the phenomenon. The analysis of daily observations were used to identify and categorize the behaviors manifested by children into three profiles of use of digital technologies, namely: the Collaborator, the Sharer and the Individual. From the analysis of these three profiles, it was possible to identify children's behavioral transitions from their social interactions in different situations around them, including contexts of appropriation and use of technologies by each one, mediation of the technology itself and the relationships that are established in these moments of use. The triangulated data from the different methodological procedures made it possible understand that the technological relationships established by children with digital technology are varied and built by different aspects of their own perception of their technological experience related to daily life inside and outside the school, changing their behavior towards the digital element within their social environments. This pointed to possible mediations that the family and the school can carry out so that children expand their play possibilities and move between the different profiles of use of the digital environment, thus diversifying their experiences from digital technologies and their social relationships during childhood