Gênero e sexualidade na escola: o que familiares de adolescentes pensam a respeito?

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2021.No atual cenário do Brasil, pensar a sexualidade e o gênero dentro do contexto escolar torna-se relevante, uma vez que nos últimos anos vem se instaurando uma conjuntura de retrocessos, conservadorismo e ataques às sexualidades entendidas como ?desviantes?. A chamada ?ideologia de gênero? e os argumentos contra a inclusão dos temas gênero e sexualidade nas discussões com estudantes na escola evidenciam a retomada dos discursos conservadores e preconceituosos presentes na sociedade. Dessa forma, essa pesquisa teve como objetivo geral verificar o que pais, mães e/ou responsáveis de adolescentes entre 12 e 13 anos pensam a respeito das discussões sobre gênero e sexualidade no contexto escolar. Como abordagem metodológica este estudo utilizou o método qualitativo com delineamento de caráter exploratório. Utilizou-se o método ?Bola de Neve?, um tipo de amostragem não probabilística e que utiliza cadeias de referência. Foram entrevistadas seis mulheres, mães de adolescentes que tinham entre 12 e 13 anos e cursavam o Ensino Fundamental em Escola Pública ou Privada de Florianópolis/SC. As entrevistas ocorreram de modo online, por meio de chamadas de vídeo. As entrevistas foram transcritas na íntegra e a análise dos dados ocorreu a partir da Análise do Discurso da corrente francesabaseada em Michel Pêcheux. Como resultados, foi possível pensar a partir da fala das participantes, que mesmo com alguns avanços em relação aos direitos das mulheres e população LGBTQIA+, ainda existe um abismo acerca da educação em gênero e sexualidade no contexto escolar. Esses temas ainda parecem ficar circunscritos às aulas de ciências, priorizando os aspectos biológicos em detrimentos dos sociais e culturais. Todas as participantes da pesquisa se colocaram como favoráveis às abordagens de gênero e sexualidade na escola, entretanto algumas falaram que eram favoráveis dependendo de como a escola abordaria essas questões. As participantes afirmaram que conversavam sobre gênero e sexualidade com seus/suas filhos/as, entretanto algumas disseram sentir vergonha em determinados momentos ou serem mais fechadas para essas conversas. Houve o entendimento de que a escola poderia ajudar as famílias nesse processo, dando orientações e também trabalhando em parceria com os/as responsáveis dos/as alunos/as. É necessário, desse modo, pensar em formas de fazer com que as famílias participem mais do cotidiano das escolas, diminuindo a distância que ainda existe na relação família-escola. Evidencia-se ainda mais o quanto o trabalho sobre gênero e sexualidade nas escolas é essencial para a construção de uma sociedade mais igualitária, democrática e com menos preconceitos.Abstract: In the current scenario in Brazil, thinking about sexuality and gender in the school context becomes relevant, since in recent years a situation of setbacks, conservatism and attacks on sexualities understood as ?deviant? has been established. The so-called ?gender ideology? and the arguments against the inclusion of gender and sexuality themes in discussions with students at school evidence the resumption of conservative and prejudiced discourses present in society. Thus, the aim of this research was to verify what fathers, mothers and/or guardians of adolescents between 12 and 13 years old think about the discussions about gender and sexuality in the school context. As a methodological approach, this study used the qualitative method with an exploratory design. The ?Snowball? method was used, a type of non-probabilistic sampling that uses reference chains. Six women were interviewed, mothers of teenagers who were between 12 and 13 years old and attending elementary school in a public or private school in Florianópolis/SC. The interviews took place online, through video calls. The interviews were transcribed in full and data analysis took place from the Discourse Analysis of the French current based on Michel Pêcheux. As a result, it was possible to think, based on the participants' statements, that even with some advances in relation to the rights of women and the LGBTQIA+ population, there is still a chasm regarding education in gender and sexuality in the school context. These themes still seem to be limited to science classes, prioritizing biological aspects over social and cultural ones. All research participants were in favor of gender and sexuality approaches at school, however some said they were in favor depending on how the school would address these issues. Participants stated that they talked about gender and sexuality with their children, however some said they feel ashamed at certain times or are more closed to these conversations. There was an understanding that the school could help the families in this process, giving guidance and also working in partnership with those responsible for the students. It is therefore necessary to think of ways to make families participate more in the daily life of schools, reducing the distance that still exists in the family-school relationship. It is even more evident how the work on gender and sexuality in schools is essential for the construction of a more egalitarian, democratic society with less prejudice