Lógica e ontologia na lógica pura do jovem Husserl: um estudo sobre dois aspectos da dimensão formal

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2021.Partindo dos ?Prolegômenos à lógica pura? (1900) e de textos coetâneos, esse trabalho analisa as relações entre lógica e ontologia no pensamento do jovem Edmund Husserl, visando mostrar que, para o autor, há complementaridade e inseparabilidade estrutural entre as séries de noções e conceitos que compõem as duas disciplinas ? seja no tocante à sua introdução, seja à sua definição. Metodologicamente, deve-se poder explanar as relações entre os planos lógico-inferencial e ontológico-referencial, de modo que não sejam exclusivamente determinadas pela precedência da regimentação do primeiro em detrimento do segundo, ou da assunção de certos comprometimentos de base advindos desse e capazes de sobredeterminar aquele. Afastando-me da interpretação corrente (eminentemente fenomenológica) e a partir do que denominarei tese não-standard, procurarei mostrar que, no texto dos ?Prolegômenos?, Husserl funda e desenvolve o projeto lógico-ontológico de uma lógica pura ou analítica, ?ambivalente?, simultaneamente preocupada 1) com o plano puramente inferencial, ou seja, com as condições mediante as quais sentido e verdade são preservados em uma cadeia de raciocínio ou teoria ? como garantir que, de premissas verdadeiras, mediante inferências válidas, obtenhamos uma conclusão verdadeira, fundada naquelas ?, mas também 2) voltada ao problema da estruturação do plano referencial, na medida em que advoga que nossos juízos e proferimentos são sempre sobre algo, sobre coisas ? mesmo quando são vazios de conteúdo, pois, neste caso, referem-se ?esquematicamente? ou formalmente a uma multiplicidade ou domínio de objetos.Abstract: This work aims to analyze the relation between logic and ontology in Edmund Husserl?s thought, taking ?Prolegomena to pure logic? and adjacent texts as a starting point, to show that, for the author, there is a structural complementarity and also a structural inseparability among a series of notions and concepts that make up both disciplines ? whereas concerning its introduction or its definition. Methodologically, it must be possible to explain the relationships between the levels of logical (inferential) reasoning and ontological (referential) position in a way that they are not determined exclusively by the precedence of the ordination of the first to the detriment of the second or the assumption that some core commitments arising form it and that may be able to override that. Moving away from the predominant interpretation (eminently phenomenological) and stemming from what I call non-standard thesis, I will try to show that in the ?Prolegomena? text, Husserl founds and develops a logical-ontological project, of an ?ambivalent? pure or analytical logic, that is simultaneously concerned with 1) the purely inferencial level, that is, with the conditions that maintain meaning and truth in a chain of reasoning or theory ? ensuring that, from true premises, through valid inferences, we obtain a true conclusion grounded on those ? but also 2) focused on the problem of structuring the referential plan, insofar as it advocates that our judgments and statements are always about something, about things ? even when they lack content, because , in this case, they refer ?schematically? or formally to a multiplicity or domain of objects