Cronotrópicos: espaço-tempo e alteridade nos relatos de viagem de Mario de Andrade, Gilberto Freyre e Claude Lévi-Strauss

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2021.As viagens e os relatos de viagem produzidos sobre elas foram centrais para a construção da geografia da imaginação do Ocidente, bem como para as epistemologias ocidentais. Com base nessa premissa, esta dissertação traz uma análise comparada de três obras situadas na intersecção entre relatos de viagem e etnografia, escritos na primeira metade do século XX: Aventura e Rotina, de Gilberto Freyre (1980 [1953]), O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade (2002) e Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss (2012 [1955]). Além de compartilharem um mesmo período, os três relatos compartilham um mesmo tema: os trópicos, mas não um mesmo espaço-tempo. Seus distintos itinerários, pontos de partida e suas múltiplas escalas espaço-temporais revelam ambíguas e intricadas relações com temas tais como modernidade, colonialidade, gênero, raça e etnicidade. O objetivo desta dissertação é situar os olhares dos viajantes para dar a ver suas ambíguas relações com estes temas, bem como revelar em que medida a posicionalidade do olhar dos autores investe o modo como cada um constrói o cronotopo (espaço-tempo) e a alteridade em suas narrativas sobre os trópicos. Trata-se, portanto, de uma retomada de narrativas clássicas levando em conta suas múltiplas escalaridades espaço-temporais, ambiguidades e possibilidades de reapropriações não só no campo da disciplina antropológica, como em contextos sociopolíticos mais amplos.Abstract: Travels and travel reports were central to the construction of the geography of imagination of the West as well as for Western epistemologies. This essay relies on a comparative analysis of three documents written in the twentieth century, which format can be considered to be at the intersection between travel reports and ethnography: Aventura e Rotina, by Gilberto Freyre (1980 [1953]), O Turista Aprendiz, by Mario de Andrade (2002), and Tristes Trópicos, by Claude Lévi-Strauss (2012 [1955]). Not only do these reports share the same period, but they also share the same theme: the tropics, but not the same space-time. The distinct itineraries, starting points and multiple space-time frames reveal ambiguous and intricate relations to themes such as modernity, coloniality, gender, race and ethnicity. The purpose of this essay is to situate the travelers? eyes in order to show their ambiguous relations with these themes, as well as to reveal to what extent the positionality of their eyes influences on how each one of them builds the chronotope (space-time) and the otherness in their narratives concerning the tropics. This essay, therefore, revisits the classic narratives taking into account their multiple space-time frames, ambiguities and possibilities of reappropriation not only to what implies the anthropological discipline, but also in broader sociopolitical contexts