Hiperacusia e fatores associados em escolares

Introdução: A hiperacusia é uma condição crônica que pode ser definida como uma tolerância reduzida a sons ambientais/ cotidianos. Ela tem sido vista como um distúrbio auditivo, que pode causar prejuízo significativo ao funcionamento normal de uma criança, uma vez que os indivíduos intolerantes a sons tendem a evitar situações nas quais os sons desconfortáveis possam ser produzidos. Os sons percebidos como dolorosos podem desencadear condutas de evitação, levando ao isolamento e influenciando as interações sociais e atividades diárias com potenciais consequências na educação, comunicação e aprendizagem. Objetivos: Investigar a tolerância a sons em escolares e os possíveis fatores associados. Método: Trata-se de um estudo observacional transversal, prospectivo e descritivo. Foram convidados a participar do estudo crianças de nove a 14 anos e seus respectivos pais/ responsáveis. O recrutamento dos participantes foi realizado através das mídias sociais. A coleta de dados foi realizada em ambiente virtual, por meio de inquéritos, na Plataforma Google Forms. A hiperacusia foi avaliada por meio de inquéritos respondido pelos pais e/ou responsáveis (um sobre dados sociodemográficos e de saúde/ saúde auditiva das crianças) e outro que investigou a sensibilidade auditiva a sons cotidianos, com quatro questões de múltipla escolha, com três possibilidades de resposta: SIM - 4 pontos, NÃO SEI - 2 pontos, NÃO - 0 pontos e uma questão sobre a reação que seus filhos têm a sons, com cinco possibilidades fechadas de resposta. Uma criança foi considerada hipersensível ao som, segundo a percepção dos pais, se obteve uma pontuação maior que oito pontos para as questões de 1 a 4. As crianças responderam três questões que investigavam a autopercepção da audição, de zumbido e de hipersensibilidade a sons. Além disso, foi solicitado que indicassem quais sons as incomodavam em uma lista de 20 sons. Se uma resposta positiva foi dada à pergunta "Você se incomoda com algum tipo de som ou ruído?" e a criança indicou cinco ou mais sons da lista de 20 sons como irritantes, a criança foi classificada como “hipersensível ao som”, segundo sua auto percepção. Resultados: Participaram da pesquisa 60 crianças, sendo 37 (61,67%) do gênero masculino e 23 (38,33%) do gênero feminino. Dos 60 participantes, 28 (45%) responderam se incomodar com algum tipo de som, sendo que 9 (15%) relataram incômodo com cinco sons ou mais. Os sons mais citados como incômodos foram: gritos (17,39%) e moto (7,82%.). A reação mais comum aos sons foi cobrir as orelhas (47,61%). 12 (20%) crianças referiram zumbido. 14 (15%) crianças apresentavam incômodo com cheiros e/ou luzes e 14 (23,33%) queixa de cinetose. Segundo os pais, 10 crianças (16,67%) apresentavam hipersensibilidade a sons. Segundo as próprias crianças, 9 (15%) apresentavam hipersensibilidade auditiva. A concordância entre a percepção de pais e filhos aponta para prevalência de 8,33% de hipersensibilidade a sons entre os escolares participantes do estudo. 17 crianças (28,33%) se incomodavam com algum tipo de som, embora não tivessem queixas de dificuldade auditiva. Conclusão: A presença de hipersensibilidade auditiva encontrada neste estudo foi de 16,67% segundo a percepção dos pais, de 15% de acordo com a auto percepção das crianças e 8,33% pela concordância entre pais e crianças. A reação mais comum das crianças aos sons, segundo os pais, foi cobrir as orelhas e os sons mais indicados como irritantes, segundo as crianças, foram os gritos e o barulho de moto. As crianças com hipersensibilidade a luzes e odores apresentaram maior ocorrência de hipersensibilidade auditiva. Não houve diferença entre as crianças com e sem cinetose em relação à ocorrência de hipersensibilidade auditiva.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq