Desenhar a Ruína: registo, interpretação e comunicação. O exemplo da cidade romana de Ebora

A presente investigação pretende ensaiar uma metodologia de desenho, que explora diferentes tipos de representação, a partir do vestígio arqueológico, num diálogo simbiótico de registo, interpretação e comunicação. Para suportar este ensaio recorre-se à estrutura arqueológica associada a um conjunto monumental - o forum romano da antiga civitas Liberalitas Julia Ebora (Évora), situado na província ocidental do Império Romano, no Conventus Pacensis (Portugal), compreendendo uma abordagem sistematizada em três partes fundamentais: o reconhecimento, as fontes e o ensaio. O reconhecimento, fase inicial deste périplo, obedece a dois momentos. Primeiro, o levantamento arquitectónico (planta, cortes e alçados) dos edifícios actuais da cidade, particularmente em redor do templo. Posteriormente todo o levantamento e registo, em desenho, das estruturas arqueológicas encontradas na cidade, principalmente na zona intramuros, a partir dos relatórios de escavação e do levantamento in situ. Sempre que possível, o processo de reconhecimento surge fundamentado com outros exemplos da arquitectura clássica, encontrados mormente na Hispânia. As fontes, organizadas na segunda parte, integram todo o estudo histórico-arquitectónico realizado a partir de fontes históricas (documentais e iconográficas). Servem igualmente de base à reconstituição da evolução do edifício do templo romano desde o século XV até ao século XIX, tomando por ponto de partida um desenho do edifício do século XIX (antes da sua desobstrução). O estudo estende-se ainda aos edifícios circundantes, nomeadamente, o Palácio da Inquisição e o Paço Arquiepiscopal (Museu de Évora). O ensaio desenvolve-se na terceira parte e procura uma hipótese de traçado do forum romano. Esta interpretação encontra-se evidentemente fundamentada nos registos (arqueológicos e arquitectónicos) e nas fontes históricas, mas é também alicerçada na pesquisa de referências da arquitectura clássica, para a realização de uma reconstituição de todo o complexo. Um processo que recorre largamente a modelos de outras cidades da Hispânia, em resultado da proximidade geográfica mantida da partilha de referências/recursos que, seguramente, estas cidades observaram. Por fim, o trabalho encerra com um breve epílogo onde se ensaia um (possível) traçado da cidade, mas sobretudo onde se lançam dúvidas e questões sobre uma eventual imagem da cidade romana. A partir deste laboratório de desenho procurou-se, portanto, objectivar a reconstituição de um fragmento de cidade, segundo uma leitura transversal do vestígio, visando demonstrar um processo para chegar à hipótese. Um processo que passa pelo desenho rigoroso das estruturas, a partir do registo arqueológico e arquitectónico, pela valorização do estudo histórico do edifício e do espaço urbano onde estas estruturas estão implantadas e pelo aventar de uma hipótese baseada em modelos clássicos, provenientes das províncias que partilham uma cultura e condições similares. Este poderá ser, pois, o contributo da arquitectura para a arqueologia, no sentido de incrementar o conhecimento da cidade romana, sendo o desenho o meio singular de aproximação ao fragmento, por meio da sua evocação e materialização.This research aims to develop a drawing methodology that explores different types of representation - recording, interpretation and communication - of the archaeological vestiges. In order to test this methodology, we used the study and analysis of the old civitas Liberalitas Julia Ebora (Évora) located in the western province of the Roman Empire, in the Conventus Pacensis (Portugal). By interpreting this example's archaeological structures, especially those associated with the monumental complex, the Roman forum, so that its reconstitution could be perceived. This process has been systematized into three fundamental parts: recognition, sources, and testing: Recognition was carried out at two levels. The first, corresponds to the architectural survey (plan, sections and elevations) of the current city buildings, particularly those located around the temple. The second, corresponds to the entire survey and record, in drawing, of the archaeological structures found in the city, mainly in the intramural area, based on the excavation reports and on the assessment in situ. This recognition process is, whenever possible, based on other examples of classical architecture, found mainly in Hispania. The sources, organized in the second part, comprised the entire historical-architectonic study carried out from historical sources (documentary and iconographic). These sources serve as a basis for reconstructing the evolution of the Roman temple building from the 15th century to the 19th century, considering a drawing of the building dated from the 19th century (before being cleared out). The study extends to the surrounding buildings, namely the Inquisition Palace and the Archiepiscopal Palace (Évora Museum). Finally, the study looks for an hypothetical layout of the Roman forum. This interpretation is based on archaeological and architectural records as well as on historical sources. However, for the reconstruction of the entire complex, it was also necessary to find the classical architecture references. For this process, models from other cities in Hispania were used, mainly due to the geographical proximity and to the sharing of references/resources that these cities certainly had. This essay concludes with a brief epilogue where a (possible) layout of the city is proposed. Far from presenting certainties, the conclusion raises out doubts and questions about a possible image of the Roman city, opening the path for further discussion With this drawing laboratory, we sought to objectify the reconstitution of a fragment of this city, following a transversal reading of the trace. The aim was to demonstrate a process to reach an hypothesis. In other words, a process involving the accurate design of structures, sustained on archaeological and architectural records, valuing the historical study of the building and of the urban space where the structures are located, and by taking the risk of presenting an hypothesis based on classical models from the provinces that share similar culture and conditions. This research reflects a possible contribution architecture may give to archaeology, in the sense that it may contribute to increase the knowledge about the Roman city, being the drawing the singular strategy to approach the fragment, as it allows its evocation and materialization