Depósitos antropogênicos relacionados ao ciclo do café no médio Vale do Rio Paraíba do Sul (RJ): caracterização preliminar

As mudanças climáticas em curso trouxeram para foco a capacidade humana de promover transformações ambientais profundas, dentre elas, a mudança no uso da terra, que modifica as camadas superiores da litosfera e induz processos de formação de terrenos antropogênicos. Um dos precedentes possíveis para estes processos é a ocorrência de crises ambientais resultantes de períodos históricos longevos – como a colonização, no caso do Brasil. Diante disso, o objetivo deste estudo é discutir os potenciais impactos do Ciclo do Café no registro geológico e nas feições geomorfológicas no Médio Vale do Rio Paraíba do Sul, bem como analisar os depósitos antropogênicos possivelmente decorrentes desse período histórico, identificados em campo na região. Desta maneira, o estudo contribui para a participação das Ciências da Terra no debate sobre o Antropoceno e aborda o colonialismo como o fenômeno que inaugura as transformações ambientais antropogênicas na região. Após levantamento bibliográfico e trabalhos de campo, nos quais foram realizadas prospecções com uma cavadeira, com consequente descrição do material sedimentar, os depósitos foram classificados de acordo com sua gênese e tipo (classificação de depósitos antropogênicos) e interpretados com relação ao Ciclo do Café (depósitos concomitantes ou posteriores a este ciclo econômico). Além disso, também foram confeccionados perfis sedimentográficos. Os resultados indicam que os depósitos dos locais estudados foram gerados em um processo erosivo-deposicional intenso, proveniente de ação humana nos principais ciclos econômicos naquela região. Dentre as características geomorfológicas, estão os fundos de vale assoreados, as ravinas e deslizamentos nas vertentes e as rampas de alúvio-colúvio. Quanto às características sedimentológicas, destacam-se a textura arenosa predominantemente grossa e imatura (grãos angulosos, presença de lama), marcadores como fragmentos de carvão e restos de gramíneas e possível nível basal discordante, formado por seixos. As características encontradas a partir de tal análise preliminar reforçam a hipótese inicial do estudo ao confirmar que o Ciclo do Café gerou depósitos antropogênicos identificáveis e mapeáveis na região, que podem constituir uma aloformação