Memória histórica e branquitude: racialização de pessoas brancas no reconhecimento de um passado familiar escravista

Esta pesquisa, inserida no campo de Estudos Críticos da Branquitude, busca analisar como o reconhecimento de um passado familiar escravista impacta na forma como pessoas brancas significam e mobilizam sua identidade racial contemporaneamente, partindo de um entendimento histórico dos processos de racialização e formação social do estado do Rio Grande do Sul. Foi realizado um estudo de caso junto à família proprietária da Fazenda da Tafona (Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul), que preserva a construção da atafona, local onde era levado a cabo o processo produtivo da farinha de mandioca pela exploração de pessoas escravizadas no século XIX. Após o tombamento da propriedade em 2016, os interlocutores dessa pesquisa iniciam um projeto de visitas educativas com escolas e grupos de pessoas a respeito da escravização ocorrida no local, diferenciando-se do processo comum entre pessoas brancas, de não falar sobre a escravização operada por seus antepassados. Metodologicamente, foi realizada uma etnografia que empregou entrevistas e a análise de documentos familiares (como inventários e cartas do século XIX, e o atual blog do projeto), além de fontes historiográficas. Desta maneira, são analisadas as formas como eles mobilizam a memória familiar de forma crítica, e como isso se desdobra em um entendimento particular a respeito de sua identidade racial enquanto pessoas brancas e da responsabilidade que possuem de lutar contra o racismo. Essa tarefa é empreendida traçando as aproximações e os afastamentos do caso específico com a teoria proposta pelos Estudos Críticos da Branquitude no que tange a possibilidade de crítica e mobilização de pessoas brancas.This research, inserted in the field of Critical Whiteness Studies, aims to analyze white racial identity and its possibilities of mobilization against racism in the context of recognition of a slaveholding family past, based on a historical understanding of the processes of racialization and social formation of the state of Rio Grande do Sul. A case study was carried out with the family that owns Fazenda da Tafona (Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul), which preserves the construction of the atafona, a place where the production process of manioc flour was carried out by exploiting enslaved people in the 19th century. After the property was listed as a heritage site in 2016, the interlocutors of this research began a project of educational visits with schools and groups of people about the enslavement that occurred there, differentiating themselves from the common process among white people of not talking about the slavery operated by their ancestors. Methodologically, an ethnography was carried out using interviews and the analysis of family documents (such as inventories and letters from the 19th century, and the current project blog), as well as historiographic sources. Thereby, the ways in which they mobilize family memory critically, and how this unfolds into a particular understanding regarding their racial identity as white people and their responsibility to fight racism, are analyzed. This task is undertaken by tracing the approximations and unconformities of the specific case with the theory proposed by Critical Whiteness Studies regarding the possibility of criticism and mobilization of white people