Memórias de sertanejos: apreensão e reconstrução do sentidodo trabalho na fala do migrante rural nordestino

In this article, it is sought to understand the work representation directly from countrymen’s speech, specially those who came to the big city in the sixties (60’s). It is analysed their relations with members of the family and similar groups, with the objective to reveal the meanings hidden in the first interactions. Through the reading of their memories, it is demonstrated their way of living in the Northeast countryside of Brazil, in the first half of the 20th century, in a society whose expectations were related to the other people´s attitudes, known and recognized by all. Keywords: Memories. Work representation. Work in childhood. Northeast of Brazil. À guisa de introdução: sujeitos pesquisados Sob orientação de uma assertiva de Ginzburg (1991, p. 27), foram selecionadas pessoas que pudessem ser pesquisadas “como se fossem um microcosmo de um estrato social inteiro num determinado período histórico”. Assim, considera-se, na escolha dos sertanejos migrantes pesquisados, que, conjuntamente, deveriam formar uma representação coerente das condições de reprodução dos trabalhadores rurais do semi-árido de meados do século XX. Neste sentido, foram adotadas formas de inserção nas relações de trabalho da zona rural como um filtro, para selecionar os pesquisados. Isto levou à opção por estudar um migrante que, quando no sertão, trabalhou na agricultura na condição de parceiro, ou seja, subsistindo numa terra que pertencia a outra pessoa e, em troca deste uso, cedendo parte do resultado de seu trabalho. Distinguiu-se o trabalho na forma da parceria, como ocupação representativa, em virtude da relevância de sua freqüência estatística dentre as ocupações agrícolas sertanejas; mais especificamente, o parceiro-morador, como o ideal para esta pesquisa. Com isto, acredita-se ter esta opção caracterizado a prática de parceria mais comum na área do semi-árido e, também, aquela em que as crenças e sentimentos construídos na relação com o grupo de iguais e com fazendeiros são comuns aos que se encontram em 1 Doutor em Sociologia; Professor da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).Neste artigo, busca-se compreender a representação do trabalho a partir da fala de migrantes sertanejos que se deslocaram para a cidade, nos anos 1960. Analisam-se suas relações com membros familiares e grupos de iguais, com o objetivo de entender os significados inculcados nas primeiras interações. Através de suas lembranças remete-se a problemática à análise de um momento em suas trajetórias de vida, em que estavam inseridos em um cotidiano vivido na zona rural do semi-árido nordestino da primeira metade do século XX, estribada em expectativas relacionadas ao agir do outro, conhecidas e reconhecidas por todos. Palavras-chave: Memórias. Representação do Trabalho. Trabalho Infantil. Nordeste do Brasil