A cor dos cabelos de Deus : intertextualidade, intermidialidade e metalepse em José Saramago

L'écrivain portugais José Saramago (1922-2010) est célèbre pour son œuvre romanesque vaste et complexe, qui lui a valu le prix Nobel de littérature en 1998. Certains de ses romans se distinguent par la manière dont ils revisitent des récits et canons variés : tel est le cas de "L'année de la mort de Ricardo Reis" (1984) et de "L'Évangile selon Jésus-Christ" (1991), le principal corpus de cette thèse. En prenant appui sur l'apport théorique de la narratologie, nous nous proposons d'analyser la façon dont l'écriture de Saramago se construit, de manière notable et constante, à partir d'autres créations, en s'appropriant des textes et des personnages, ainsi que des stratégies et des modes de représentation de différentes traditions et de divers médias, allant de la presse au texte biblique, du cinéma à la peinture, entre autres. Cette étude porte tout d'abord sur le laboratoire d'écriture de Saramago, c'est-à-dire sur ses références intertextuelles et intermédiales, ainsi que sur les matériaux préparatoires destinés à nourrir chaque roman, dont plusieurs étaient demeurés inconnus ou n'avaient pas encore fait l'objet d'une analyse approfondie. Après avoir identifié la base narrative de chacun des ouvrages, et à partir de leur comparaison, nous nous employons à montrer à quel point le dialogue de Saramago avec d'autres références est également présent dans le discours. À cet égard, le narrateur se présente comme singulier car, en intervenant de manière critique, et en se faisant l'écho d’une tradition métaleptique qui va de Garrett à Machado de Assis, voire plus, il s'avère être l'un des éléments les plus constants de l'œuvre de Saramago. L'étude s'intéresse pour finir au style de l'écrivain, en partant de la perspective selon laquelle les stratégies narratives analysées dans ces deux ouvrages lui sont propres.The Portuguese writer José Saramago (1922-2010) is known for his vast and complex fictional work, which won him the Nobel Prize for Literature, in 1998. Some of his novels stand out for the way they revisit varied narratives and canons: this is the case of "The Year of the Death of Ricardo Reis" (1984) and of "The Gospel According to Jesus Christ" (1991), the main corpus of this thesis. Within a theoretical framework of narratology, we seek to analyze the way Saramago's writing is markedly and constantly built from other creations, through the appropriation of texts and characters, as well as of strategies and ways of representing from different traditions and media, ranging from the press to the biblical text, from cinema to painting, among others. This investigation focuses initially on Saramago's writing laboratory, that is, on his intertextual and intermedial references and on the preparatory materials for each novel, several of which were hitherto unknown or had not yet been the subject of an in-depth study. Having established the narrative basis of each book, and moving to a comparative perspective, we seek to show how much Saramago's dialogue with other references is also present at the level of discourse. We highlight, in particular, the narrator who, intervening critically in the story, and echoing a metaleptic tradition that goes from Garrett to Machado de Assis and other writers, is one of the most constant elements of Saramago's work. Finally, a reflection on the writer's style is envisaged, since we understand that the narrative strategies analyzed in those two novels are an essential part of it.O escritor português José Saramago (1922-2010) é conhecido por sua obra romanesca vasta e complexa, que lhe rendeu o prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Alguns dos seus romances se destacam pelo modo como revisitam narrativas e cânones variados: é o caso de "O ano da morte de Ricardo Reis" (1984) e de "O evangelho segundo Jesus Cristo" (1991), que compõem o corpus principal deste trabalho. Recorrendo ao quadro teórico da narratologia, esta tese busca analisar o modo como a escrita de Saramago se constrói, de maneira marcada e constante, a partir de outras criações, pela apropriação tanto de textos e personagens quanto de estratégias e modos de representação de tradições e mídias diversas, que vão da imprensa ao texto bíblico, do cinema à pintura, entre outros. A investigação centra-se, primeiramente, no laboratório de escrita de Saramago, isto é, nas suas referências intertextuais e intermidiáticas e nos materiais preparatórios de cada romance, vários dos quais eram até então desconhecidos ou ainda não tinham sido alvos de um estudo aprofundado. Estabelecida a base narrativa de cada livro, e partindo-se da sua comparação, busca-se mostrar o quanto o diálogo de Saramago com outras referências projeta-se também no discurso. Destaca-se, em especial, o narrador que, intervindo criticamente na história, e ecoando uma tradição metaléptica que vai de Garrett a Machado de Assis e outros, revela-se um dos elementos mais constantes da obra de Saramago. Enseja-se com isso, enfim, uma reflexão sobre o estilo do escritor, entendendo-se que as estratégias narrativas analisadas naquelas duas obras lhe são constitutivas