Sobre a (im)possibilidade de aprender: psicopedagogia e psicanálise

Por que numa sala de aula há invariavelmente dois, três ou mais alunos que não aprendem? Como explicar sua aparente indiferença em relação ao conhecimento, a ausência daquele movimento que Madalena Freire descreve como “paixão de conhecer o mundo” (1983), título de uma obra sua, geralmente tão genuína e espontânea na criança pequena? A questão é certamente familiar aos professores que no cotidiano de suas práticas se deparam com esses alunos - não apenas pequenos - cuja aprendizagem se reduz à fixação mecânica e enfadonha de conceitos e procedimentos esvaziados de sentido. Mas o fracasso escolar a que eles rapidamente são conduzidos coloca paradoxalmente em cheque a própria escola, cuja eficácia está construída precisamente sobre o pressuposto de que todo aluno deseja aprender, aprimorar conhecimentos, crescer enfim. Para chegar a compreender o caso daqueles que justamente nada querem saber da ou na escola – problemática inaugural da psicopedagogia – impõe-se primeiramente conhecer os processos mediante os quais a criança aprende, ou melhor, os processos mediante os quais seu pensamento se constrói e possibilita que algo de uma aprendizagem ocorra. É preciso considerar ademais o que impulsiona essa criança em direção aos objetos de conhecimento – conhecimento do mundo, dos outros, de si mesma – antes de se acercar daquelas que permanecem estranhamente indiferentes à aprendizagem, aos outros e à cultura