Empreendedorismo e educação profissional: novos conteúdos para o trabalho?

O presente trabalho procurou verificar como o empreendedorismo tem sido inserido como novo conteúdo na Educação Profissional de Nível Médio, buscando estabelecer relações entre educação e trabalho. O empreendedorismo, caracterizado como fator de desenvolvimento socioeconômico, tem ganhado ênfase na sociedade brasileira nos últimos anos e, seguindo a tendência mundial, vem sendo implementado enquanto política pública educacional. Apontado como competência necessária ao novo perfil de trabalhador exigido pelas empresas e também como alternativa ao desemprego, o mesmo vem sendo incluído nas legislações educacionais federais brasileiras e, especificamente, com maior ênfase na Educação Profissional de Nível Médio. Assim, apresentamos neste trabalho o surgimento do conceito de empreendedorismo, as teses de seus apologetas e seus esforços para incluí-lo como conteúdo educacional. Realizamos uma análise dos fundamentos legais e teóricos que normatizam a introdução do empreendedorismo na educação, na qual concluímos que o mesmo se insere na renovação das teses da Teoria do Capital Humano, atendendo aos desígnios do capital reestruturado por um novo tipo de trabalhador, no contexto do neoliberalismo. Prometendo transformar os indivíduos em “capitalistas de sucesso” o empreendedorismo propõe, na verdade, uma educação utilitarista, pragmática e aligeirada, esvaziada de conteúdos técnicos e teóricos capazes de promover ao futuro trabalhador uma compreensão mais aprofundada sobre as cadeias produtivas e as relações sociais envolvidas no processo de produção. Logo, o empreendedorismo não se trata de um novo conteúdo, mas de um modelamento subjetivo dos estudantes para adaptá-los de modo não apenas passivo, mas propositivo, a essas relações nas quais se aprofundam a exploração e a sujeição das classes trabalhadoras aos imperativos do capital.The present work sought to verify how entrepreneurship has been inserted as a new content in High School Professional Education, seeking to establish relationships between education and work. Entrepreneurship, characterized as a factor of socioeconomic development, has gained emphasis in Brazilian society in recent years and, following the global trend, has been implemented as an educational public policy. Appointed as a necessary competence for the new worker profile required by companies and also as an alternative to unemployment, it has been included in Brazilian federal educational legislation and, specifically, with greater emphasis on High School Professional Education. Thus, we present in this work the emergence of the concept of entrepreneurship, the theses of its apologists and their efforts to include it as educational content. We carried out an analysis of the legal and theoretical foundations that regulate the introduction of entrepreneurship in education, in which we conclude that it is part of the renewal of the theses of the Human Capital Theory, meeting the purposes of capital restructured by a new type of worker, in the context of neoliberalism. Promising to transform individuals into "successful capitalists", entrepreneurship actually proposes a utilitarian, pragmatic and streamlined education, devoid of technical and theoretical content capable of promoting future workers a deeper understanding of the production chains and the social relations involved in the production process. Therefore, entrepreneurship is not about a new content, but about a subjective modeling of the students to adapt them, not only passively, but purposefully, to these relationships in which the exploitation and subjection of the working classes to the imperatives of the capital