Efeitos da restrição de movimentos crônica e imprevisível e alojamento individual sobre os comportamentos de autocuidado e social de ratos machos adolescentes

Embora os centros urbanos ofereçam muitas oportunidades, a falta de espaço e o isolamento social frequente podem gerar problemas comportamentais, especialmente durante a adolescência, quando o cérebro está em processo de amadurecimento e a construção de relações sociais com os pares é fundamental para a saúde mental. Estudos sobre o neurodesenvolvimento em seres humanos são onerosos e podem ser muito longos. Portanto, o uso de modelos animais é vantajoso por permitir a investigação de mecanismos cerebrais envolvidos com as alterações comportamentais observadas. Em um estudo anterior do nosso grupo, observamos que o estresse de restrição de movimentos crônica e imprevisível (RMCI), associado ao alojamento individual, produziu aumento de comportamento social ofensivo e redução das concentrações de serotonina no hipocampo de ratos machos adultos. No presente projeto foi avaliado o impacto desse estressor crônico (que mimetiza a falta de espaço), associado ou não ao alojamento individual, nos comportamentos de auto-cuidado e social de ratos machos adolescentes. Aos 28 dias de vida, ratos machos foram submetidos diariamente à restrição de movimentos por 1 h, 2 h, 4 h ou 6 h, por 2 semanas. Durante o protocolo de estresse os animais foram alojados individualmente ou em grupos de 3, para determinar a influência do convívio social sobre os comportamentos afetivos. Ao final da 1ª e 2ª semanas de estresse os animais foram submetidos ao teste de splash de sacarose (TSS), para avaliar o comportamento de autocuidado (frequência de auto-limpeza ou grooming) por 10 min, uma vez que o aumento da latência ou redução desse comportamento é indicativo de perfil do tipo depressivo. Após cada TSS, os animais foram habituados ao campo aberto e, no dia seguinte, submetidos ao teste de interação social (TIS) com um animal desconhecido, do mesmo sexo e idade (rato-alvo) e os comportamentos sociais foram analisados. Trinta minutos após o 2º TIS os animais foram eutanasiados para coleta de sangue, retirada dos cérebros e das adrenais, para o cálculo do peso relativo desses órgãos (índice de estresse crônico). Os resultados mostraram que o alojamento individual produziu comportamento do tipo depressivo, refletido pela diminuição na frequência de grooming total. O alojamento individual também produziu aumento da interação social. O período de duas semanas de RMCI aumentou a exploração da porção central do campo aberto, indicando um efeito ansiolítico, também reduziu o ganho de peso corporal, mas não afetou o comportamento relevante para depressão. Esses resultados sugerem que em ratos machos adolescentes, duas semanas de RMCI não foram suficientes para alterar o comportamento social, porém o alojamento individual aumentou o comportamento relevante para depressão, indicando que as interações sociais são importantes para o desenvolvimento saudável do encéfalo.Although urban centres provide many opportunities, lack of space and the often social isolation can generate behavioural problems, especially during adolescence, when the brain is maturing and the construction of social behaviour is a fundamental issue for the metal health. Studying neurodevelopment in humans is costly and lengthy. Therefore, the use of animal models is advantageous for they allow the investigation of brain mechanisms involved in the behavioural changes observed. In a previous study our group showed that the chronic and unpredictable movement restriction (CUMR) stress model, associated with individual housing, produced more offensive behaviour and a reduction of serotonin concentrations in the hippocampus of adult male rats. In the present project, we tested the impact of this chronic stressor (which mimics the lack of space), associated, or not, with individual housing, on self-care and social behaviours of male juvenile rats. Twenty-eight day-old male Wistar rats were submitted daily to one session of movement restriction, which could last 1 h, 2 h, 4 h or 6 h, for 2 weeks. During the stress protocol, the animals were housed individually or in groups of three to determine the influence of social interactions on the affective behaviour of the animals. At the end of the 1st and 2nd weeks of stress, the animals were submitted to the sucrose splash test (SST) to evaluate self-care behaviour (reflected by latency to and frequency of grooming behaviour), since the increase in latency and/or reduction of grooming are relevant for the study of depression. After the SST, the animals were habituated to the open field and their exploratory behaviour was quantified. On the following day, the animals were submitted to the social interaction test (SIT) with an unknown animal, of the same sex and age (target rat) and social behaviours were analysed. Thirty min after the 2nd SIT, the animals were euthanized for blood collection, removal of the brains and adrenals, to calculate the relative weight of these organs (the adrenal hypertrophy is an index of chronic stress). The results showed that individual housing resulted in depressive-like behaviour, reflected by reduced frequency of grooming. On the Other hand, individually-housed adolescents engaged more in social interaction. Two weeks of CUMR increased exploration of the centre of the open field, indicating an anxiolytic effect, it also impaired body weight gain, but did not influence depressive-like behaviours. Thus, we concluded that in male adolescent rats, two weeks of CUMR were not enough to alter social behaviour; on the contrary, individual housing increased a behaviour relevant for the study of depression, indicating that social interactions during adolescence are important for the healthy brain development.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq