José Manuel Sarmento de Beires entre a memória e o esquecimento

A figura pública e a pessoa do Coronel aviador José Sarmento de Beires estão indelevelmente associadas a dois contextos complexos na vida de Portugal no século XX: de um período fulgurante de arrojado piloto aviador, que atingiu laivos de herói nacional, passou a proscrito por ter sido insurgente em movimentações revolucionárias contra a Ditadura Nacional e o Estado Novo, tendo entrado num processo irreversível de esquecimento motivado politicamente. Tendo"iniciado" o seu percurso militar aos onze anos, quando foi admitido no Real Colégio Militar, evoluiu para o militar da arma de Engenharia do Exército e, de imediato, com a chancela de pioneiro, pertenceu ao primeiro curso de Aeronáutica Militar lecionado em Portugal. Após ter pertencido ao Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra, tornou-se o aviador de todas as aventuras, das viagens aéreas intercontinentais e da tentativa de circum-navegação aérea. Com a sua deriva política, a partir de 1928, Sarmento de Beires participou em diversos movimentos revolucionários contra o regime saído da revolução de 28 de maio de 1926. Por esta sua conduta, foi preso em 1933, julgado e condenado a um desterro e exílio, do qual só regressou nos finais de 1950. A consequência política mais marcante do seu trajeto foi o esquecimento a que foi votado, com início logo em 1928 e que estende até aos nossos dias. Contudo, o Coronel Sarmento de Beires representa uma pessoa multifacetada: arraigado republicano, democrata, político, insurgente, idealista, seareiro, maçon, teósofo, literato, com conhecimento do envolvimento metapsíquico, homem de cultura. Foi um cosmopolita. Navegou claramente entre a presença na memória histórica coletiva de Portugal e o esquecimento intencional com motivação política. O esquecimento conseguiu ser sempre mais forte, porque limitou o conhecimento público de uma figura que se revelou de exceção no século XX português.The public figure and the private person of aviator Colonel José Sarmento de Beires are indelibly linked to two complex contexts in 20th-century Portugal: from a dazzling period as a daring aviator pilot, who attained the status of national hero, he was outlawed for having been an insurgent in revolutionary movements against the National Dictatorship and the Estado Novo regime, after which he entered an irreversible process of politically-motivated oblivion. Having "started" his military career at the age of eleven, when he was admitted to the Royal Military School, he became a military officer in the Army Engineering branch and shortly after joined the first Military Aeronautics course ever taught in Portugal. After serving in the Portuguese Expeditionary Corps in the First World War (WWI), he became the aviator of all adventures, including intercontinental air travel and an attempt at an aerial circumnavigation. With his political drift starting in 1928, Sarmento de Beires took part in several revolutionary movements against the regime that came out of the revolution of May 28th, 1926. For his conduct, he was arrested in 1933 and tried and sentenced to banishment and exile, from which he only returned at the end of 1950. The most striking political consequence of his path was the oblivion in which he sank, starting in 1928 and continuing still today. However, Colonel Sarmento de Beires is a person with many sides: a staunch Republican, a Democrat, a politician, an insurgent, an idealist, member of Seara Nova, a freemason, a theosophist, a man of letters, a man with knowledge of the metapsychic environment, a man of culture. He was a cosmopolitan. He clearly navigated between a presence in the Portuguese collective historical memory and an intentional oblivion with a political motivation. The oblivion always managed to prevail, because it limited public knowledge of a figure who proved to be an exception in Portugal's 20th century