Medicação potencialmente inapropriada nos últimos 12 meses de vida : o caso dos idosos acompanhados em cuidados paliativos domiciliários

Tese de mestrado, Cuidados Paliativos, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, 2020Introdução A medicação potencialmente inapropriada (MPI) é cada vez mais alvo de estudo e atenção, pelas consequências negativas que pode ter no doente. Nos cuidados paliativos, um dos objetivos primordiais é melhorar a qualidade de vida dos doentes, pelo que a deteção e redução de medicação – que não vá de encontro a este objetivo – torna-se matéria de grande pertinência. Objetivo Determinar a prevalência da MPI e das interações medicamentosas em idosos nos cuidados paliativos. Material e Métodos Estudo quantitativo, descritivo, retrospetivo e observacional. Identificação da MPI, usando os critérios STOPPfrail, no último ano de vida dos idosos com ≥ 65 anos acompanhados pelas equipas comunitárias de suporte em cuidados paliativos nos Açores, e que faleceram entre janeiro de 2016 e dezembro 2018. Resultados Dos 205 doentes, 137 foram incluídos, sendo 72 homens (52.55%), com uma mediana de 78 anos (amplitude interquartil 73-84). A prevalência de MPI foi de 90.51% (n=124), sendo frequente a prescrição de medicação sem evidência clínica clara (51.09%, n=70) e de inibidores da bomba de protões (45.98%, n=63). Foram contabilizadas 1107 interações medicamentosas em 120 doentes (87.59%), sendo que a MPI esteve envolvida nas interações de 98 doentes (71.53%) e em 473 das interações medicamentosas clinicamente significativas (46.78%). Conclusão Em cuidados paliativos, a prevalência de MPI em idosos é elevada. O uso dos critérios STOPPfrail pode ajudar a identificar a MPI e, posteriormente, a delinear um plano para a sua redução, de preferência num contexto de trabalho interdisciplinar.Introduction Potentially inappropriate medication (PIM) is increasingly the subject of study and attention because of the negative consequences it can have on the patient. In palliative care, one of the primary objectives is to improve the quality of life of patients, so the detection and reduction of medication - which does not meet this objective - becomes a matter of great relevance. Objective To determine the prevalence of PIM and drug interactions in elderly people in palliative care. Material and Methods Quantitative, descriptive, retrospective and observational study. Identification of PIM, using the STOPPfrail criteria, in the last year of life of elderly people with ≥ 65 years old followed by community palliative care teams in the Azores, and who died between January 2016 and December 2018. Results Of the 205 patients, 137 were included, being 72 men (52.55%), with a median of 78 years (interquartile range 73-84). The prevalence of PIM was 90.51% (n=124), with frequent prescription of medication without clear clinical evidence (51.09%, n=70) and proton pump inhibitors (45.98%, n=63). A total of 1107 drug interactions were accounted for in 120 patients (87.59%), with PIM involved in the interactions of 98 patients (71.53%) and in 473 of the clinically significant drug interactions (46.78%). Conclusion In palliative care, the prevalence of PIM in the elderly is high. The use of the STOPPfrail criteria can help to identify PIM and subsequently outline a plan for its reduction, preferably in an interdisciplinary working context