Atores e redes da agroecologia no acampamento Maria Rosa do Contestado : recampenização e o resgate de tradições camponesas

Orientador: Prof. Dr. Alfio BrandenburgDissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Defesa : Curitiba, 14/03/2022Inclui referênciasResumo: À luz das contribuições clássicas e contemporâneas do campo de estudos da Sociologia Rural, nos aprofundamos em investigar, para essa pesquisa, uma ruralidade particular para o contexto brasileiro, qual seja, uma ruralidade marcada pelos fenômenos da recampenização e da ecologização, através da existência e atuação ativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Construindo um forte movimento no rural brasileiro desde as últimas décadas do século passado, o MST vem contribuindo em alterar a realidade agrária e fundiária no Brasil, através da reconstituição do movimento camponês no país e o levantamento constante da pauta da Reforma Agrária para dentro - e também para fora - do Estado brasileiro. Já na última virada de século, o Movimento também vem incluindo outras pautas em suas ações, tal como a pauta ecológica, e vem, desde então, promovendo a Agroecologia no interior de Acampamentos e Assentamentos rurais espalhados pelo Brasil. Tais movimentos nos instigaram a procurar compreender, enquanto objetivo e exercício central da pesquisa, os verdadeiros sentidos das ações e das práticas da Agroecologia no interior do MST, e com isso acabamos nos aproximando de uma realidade e de um acampamento rural específico: o Acampamento Maria Rosa do Contestado. Localizado no município de Castro - PR, e mobilizando cerca de 65 famílias na produção de alimentos agroecológicos desde 2015, o Acampamento Maria Rosa do Contestado nos permitiu conhecer contornos singulares da ecologia emergente naquele território, através do desenvolvimento cotidiano da vida e do trabalho de dezenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Seguindo a orientação teóricametodológica da Teoria Ator-Rede, principalmente através das contribuições de Bruno Latour, fomos seguindo atores e redes da agroecologia no interior do acampamento Maria Rosa e conhecendo melhor os contornos da ecologia emergente naquele território. O movimento de seguir os atores e mapear as redes da agroecologia naquele acampamento nos permitiu conhecer uma diversidade de atores humanos e não humanos no interior de tal processo (ecologização), que tem tido como característica principal o resgate de tradições camponesas por parte dessa população que tem voltado ao rural brasileiro em busca de construir vida e trabalho. É, conforme constatamos através dos trabalhos de campo naquele território, uma agroecologia que tem se construído tendo como base uma ancoragem em memórias e tradições de famílias que nasceram e se criaram no rural brasileiro, ao mesmo tempo que também uma prática de vida e de trabalho que se modifica e se atualiza constantemente à luz de novos conhecimentos e experiências cotidianas. É, para todos os efeitos, uma agroecologia emergente fruto de processos de continuidades, mas também de rupturas, no que diz respeito a produção e reprodução da categoria social do campesinato no Brasil. Tem sido, assim, uma agroecologia de tradição e de tradução simultaneamente, através do resgate de tradições camponesas que, por sua vez, são confrontadas também com um mundo moderno globalizado em questão.Abstract: In the light of classic and contemporary contributions from studies of Rural Sociology, we delve deeper into investigating a particular rurality for the Brazilian context, that is, a rurality marked by the phenomena of recampenization and ecologization, through the existence and active role of the Landless Rural Workers Movement (MST). Building a strong movement in the Brazilian countryside since the last decades of the last century, the MST has contributed to change the agrarian and land ownership reality in Brazil, through the reconstitution of the peasant movement in the country and the constant survey of the Agrarian Reform agenda inwards - and also outwards - the Brazilian State. At the turn of the century, the Movement has also been including other agendas in its actions, such as the ecological agenda, and since then has been promoting Agroecology within rural camps and settlements throughout Brazil. Such movements instigated us to seek to understand, as a central objective and exercise of the research, the true meanings of the actions and practices of Agroecology within the MST, and with that we ended up approaching a reality and a specific rural encampment: the Acampamento Maria Rosa do Contestado. Located in the city of Castro - PR, and mobilizing about 65 families in the production of agroecological food since 2015, the Acampamento Maria Rosa do Contestado allowed us to know the unique contours of the emerging ecology in that territory, through the daily development of the life and work of dozens of rural workers. Following the theoretical-methodological orientation of the Actor-Network Theory, mainly through the contributions of Bruno Latour, we followed agroecology actors and networks inside the Maria Rosa camp and got to know better the contours of the emerging ecology in that territory. The movement of following the actors and mapping the agroecology networks in that camp allowed us to get to know a diversity of human and non-human actors within this process (greening), which has had as its main characteristic the rescue of peasant traditions by this population that has returned to the Brazilian countryside in search of building life and work. It is, as we have seen through fieldwork in that territory, an agroecology that has been built based on an anchoring in memories and traditions of families who were born and raised in the Brazilian countryside, at the same time as a practice of life and work that is constantly modified and updated in the light of new knowledge and everyday experiences. It is, for all intents and purposes, an emerging agroecology, the result of processes of continuities, but also of ruptures, with regard to the production and reproduction of the social category of the peasantry in Brazil. It has thus been an agroecology of tradition and translation simultaneously, through the rescue of peasant traditions that, in turn, are also confronted with a modern globalized world in question